Um corpo morto paira sobre a UFRJ

Por Denilson Lopes, Prof. ECO/UFRJ.

                  Há um corpo morto que paira sobre a UFRJ. Não foi o primeiro e talvez não seja o último. Há muitos outros mais pelo Brasil à fora. Mas esse corpo morto é o que temos. Não sei o que nós professores, funcionários e estudantes, reitorias, associações e sindicatos fizemos. Se algo foi feito foi insuficiente. Há sussurros que falaram de milícia, de estupro de estudantes no alojamento, no Fundão. E por que não ouvimos esses balbucios? Por que não os levamos a sério e estamos reduzindo esta e tantas outras mortes a uma questão de segurança? Novamente nós nos damos as mãos nos sinceros pêsames à família do estudante morto para depois irmos dormir com a consciência do dever cumprido possamos nos preocupar se nossos programas de pós serão melhor avaliados, se nossos artigos sairão em revistas internacionais qualificadas, se as notas serão altas, quando haverá formatura, se haverá aumento de salário e com que idade vamos nos aposentar… Só tenho dúvidas e falta de falar muitas coisas, coisas complexas que devem ser nomeadas. Classismo. Misoginia. Racismo. LGBTfobia. Falta sobretudo de estarmos juntos….

                      Olho a foto dele. Aquela em que ele está de calças rasgadas e o sorriso sedutor. Ele fez a mesma disciplina que tenho oferecido desde que comecei a trabalhar aqui. Poderia ter sido meu alunos mas não foi. Já tive uma aluna que morreu em circunstâncias não de todo explicadas. Sim, houve outros mortos. Quantos mais haverá quando lemos as ameaças enviadas aos estudantes? Diego, prefiro ficar com aquele seu sorriso. Gostaria de poder ouvir o que deveria ter ouvido há muito mais tempo. Talvez ainda não seja tarde demais. Para nós. Diego, carrego os seus lábios nos meus.

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Para ouvir o que não ouvi. Por isto irei no ato organizada pelos estudantes na próxima quarta-feira, dia 13 de julho (quarta-feira), às 18h em frente à ALERJ, na Praça XV, Rio de Janeiro, RJ.(https://www.facebook.com/events/1090030634402161/).

Um professor omisso

Denilson Lopes, Prof. ECO/UFRJ

Sobre o assassinato de Diego na UFRJ:

Diego Vieira Machado foi encontrado morto no último sábado no campus da UFRJ na Ilha do Fundão, onde morava e cursava Letras. O corpo apresentava sinais de espancamento e estava nu da cintura para baixo. A principal linha de investigação da polícia trabalha com a hipótese de crime homofóbico.

Assassinato de estudante negro e gay no Rio escancara intolerância na universidade

diego

Imagem: El País.

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