A marcha dos meninos de São Bento. Deus, Pátria e Liberdade!

Por Aloysio Clemente Breves Beiler.

Em 1895, o Mosteiro de São Bento abrigava em seus salões cerca de 630 alunos, com idades entre seis e vinte anos. A novíssima República instalada no Brasil vivia anos conturbados. O alagoano Floriano Peixoto, segundo presidente do Brasil, enfrentou a Revolução Federalista apoiado por Júlio de Castilhos e a pressão do maragato Silveira Martins, morrendo em maio em sua fazenda de Barra Mansa, RJ. Prudente de Moraes assume o poder. Manifestações eram constantes e as arruaças eram temidas e combatidas com truculência pelas forças policiais.

O jornal “O Apóstolo”, de setembro de 1895, dos padres João Scaligero e José Alves Martins do Loreto, teciam elogios ao caráter da passeata promovida pelos jovens do São Bento, que acompanhados de banda de música, seguiram até a Rua Larga de São Joaquim, onde ficava a residência da Presidência da República.

O motivo da marcha era prestigiar o presidente, que chegou até os alunos e discursou em profundo agradecimento. Exortou aos meninos o amor à Pátria e o respeito aos direitos constituídos, salientando que a juventude era o futuro da nação. Os jovens portavam um estandarte com a seguinte divisa: M. S. B. Deos, Patria e Liberdade. Na despedida, entregaram flores às filhas do presidente. Outros tempos! dirão alguns. Pode ser. Muito diferente do “Vem prá rua!” de hoje, a manifestação dos meninos de São Bento foi de apoio ao governo. A ordem e civilidade foram aclamadas pela Gazeta de Notícias e outros jornais da Rua do Ouvidor.

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O ano de 1895 foi especialmente movimentado com os debates sobre a votação do divórcio, o positivismo e a separação entre Estado e Igreja. Entretanto, o povo, com todas as dificuldades, ainda saboreava a lembrança do ótimo carnaval do início do ano. O Club dos Fenianos promoveu em janeiro um “Kankanatico Baile a Phantasia”, com um concurso de beleza. O Democráticos, para não ficar de fora, promoveu um “Cathecismo do Amor”, e o Tenentes do Diabo fizeram sua festa com a “Revelação Irônica de Satanás sobre a música do futuro”.

“Que topete!…”, foi a nota do Correio da Tarde para um pedido dos bookmakers do Catete, do Boliche Nacional e do Belódromo aos juízes da Fazenda Municipal, exigindo ressarcimento indenizatório pelos prejuízos causados pelo fechamento das casas de jogo. Alertava o jornal que os espertos indivíduos adotaram o pseudônimo de Banco de Comissões para continuar a vida fácil.

Enquanto isso, Madame Leonie Barros, parteira de primeira classe, aprovada pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e Paris, atendia a qualquer hora na Rua Larga de São Joaquim, 171, fazendo vir ao mundo a “nova geração de manifestantes”.

Hoje, ainda temos: Carnaval, bookmakers e passeatas benditas ou pagãs, com as graças de Deus! Um pequeno cartaz chamou minha atenção nos recentes protestos. Menos óbvio que os demais, e com muito bom humor, dizia: “Menos ar no saquinho de batata frita”.

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Dizem que São Bento de Núrsia, patrono do Colégio carioca e dos beneditinos, venceu algumas ciladas armadas pelo Diabo, quando lhe ofereceram vinho e pão envenenados. Portanto, reza a tradição popular:

São Bento, São Bento, livrai-nos das cobras e animais peçonhentos!

 

Aloysio Clemente Breves Beiler

[email protected]

Baú da Rua Larga – Folha da Rua Larga no. 40

Instituto Cultural Cidade Viva

 

 

prudente de morais

Prudente de Moraes.

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  1. Mário de Sá Vera

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