PRÊMIO ARTEMISIA REVELA O TALENTO FEMININO NOS QUADRINHOS

Por Natania Nogueira.

artemisa

Pouco conhecido no Brasil, o Prêmio Artemisia , criado em 2007, tem o objetivo de  promover o trabalho das mulheres nos quadrinhos. O prêmio é entregue anualmente no dia 9 de janeiro, dia do nascimento de Simone de Beauvoir, para chamar a atenção para a produção feminina. Seu nome é uma justa homenagem à pintora renascentista italiana Artemisia Gentileschi.

Artemisia Gentileschi Lomi nasceu em Roma no dia 08 de julho de 1593, e destacou-se no Barroco italino. Era a filha mais velha do pintor Orazio Gentileschi (1563–1639). Sua vida foi marcada pelos obstáculos comuns a mulheres que se aventuram em profissões dominadas pelos homens, além de uma tragédia pessoal que tornou tudo mais difícil. Aos 19 anos foi violentada pelo pintor Agostino Tassi (1580–1644), amigo de seu pai e contratado para ser seu tutor. Humilhada em um julgamento que acabou deixando livre seu agressor e, lidando com o preconceito da sociedade da época, Artemisia deu a volta por cima. Tornou-se uma das mais renomadas artistas do período, tendo tido seu talento reconhecido por seus pares ainda em vida.

Uma mulher forte e determinada, representante ideal para um prêmio que busca reconhecer o valor das mulheres numa arte que ainda é dominada pelos homens. Segundo dados da Association des Critiques et des journalistes de Bande Dessinée, de 2010, a indústria dos quadrinhos na França oferece ao público cerca de 5.000 novos títulos anualmente, o que representa cerca de 7% do volume de publicações. Em toda a Europa francófona, apenas cerca 12% dos cartunistas são mulheres.

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Embora a porcentagem de mulheres atuando na área ainda seja pequena, ela tem crescido em relação ao grupo masculino. Em 2001, as mulheres representavam 7,2%, e em 2013 já eram 12,3%.  A iniciativa de criar o Prêmio Artemisia pode estar relacionado a este aumento. Chantal Montellierm, uma das fundadoras da premiação, confirma que ele tem ajudado a dar visibilidade ao trabalho das mulheres e que muitas delas têm sido contatadas por editoras europeias.

No Brasil, também tem aumentado a participação de mulheres na produção e quadrinhos, seja como desenhista, roteirista ou colorista. Muitas delas têm, inclusive, conquistado o mercado internacional. Nos últimos anos as mulheres não apenas têm se destacando como aumentou, também, o debate acerca do papel e das representações das mulheres na indústria dos quadrinhos. Encontros acadêmicos, grupos de discussão e matérias publicadas em jornais vêm tirando do anonimato muitas desenhistas e estimulando outras a se arriscarem no mercado.

Editoras como a Nemo, do Grupo Autêntica, estão abrindo as portas para o talento feminino. Por ela, foram publicados títulos assinados por Bianca Pinheiro, Fernanda Mia e Lu Cafaggi. Grandes estúdios, como o Maurício de Sousa, produções também estão abrindo espaço para as mulheres. Petra Leão, por exemplo, assina no roteiro de umas das revistas mais vendidas no Brasil, destinada ao público jovem, a “Turma da Mônica Jovem”.

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Há ainda quadrinhos independentes e produções realizadas a partir de financiamentos coletivos, que estão se multiplicando a cada ano, e trazendo ao público geral talentos como o Camila Torrano, Germana Viana, Carolina Ito e Beatriz Lopes, para citar algumas representantes de uma nova geração de mulheres que vem se destacando nos quadrinhos.

Falta, ainda, um prêmio dedicado às mulheres quadrinistas brasileiras, a exemplo do Prêmio Artemisia. Quem sabe, um “Prêmio Nair de Teffé”, ou algo do gênero ainda possa ser criado para colocar em destaque as artistas nacionais? Não se trata de isolar o talento feminino ou colocar a produção feminina numa categoria a parte, mas da necessidade de abrir novos espaços para divulgação de trabalhos na área.

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Artemisia_Gentileschi_Selfportrait_MartyrArtemisia: autorretrato (1615).

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