Pequenos adultos

Em “A Vida Social no Brasil nos Meados do Século XIX”, Gilberto Freyre destaca que os meninos da época eram vestidos como pequenas “caricaturas de homem” e, aos oito ou dez anos, usavam trajes semelhantes aos dos senhores de engenho, inclusive com chapéu, bengala, chibata à mão e brilhantina nos cabelos. Já para os meninos mais jovens, era moda entre os membros da classe alta fazê-los aparecer em público vestindo roupas quase carnavalescas, imitando personagens das óperas mais conhecidas.

O Reverendo Fletcher, em “Brazil and the Brazilians” descreve os meninos da elite, da década de 1850, da seguinte forma: “(…) antes dos 12 anos, parece um pequeno velho, com seu chapéu preto de copa dura, colarinho empertigado e bengala.; na cidade caminha como se todo mundo estivesse olhando para ele e como se estivesse espartilhado. Não corre, não salta, não roda o arco de barril, não joga pedras, como os meninos da Europa e da América”.

As meninas também usavam trajes austeros que lhes davam o “ar grave de respeitáveis matronas”, segundo o autor. A infância durava pouco naqueles tempos: as meninas também já estavam em idade de casar por volta dos treze anos. Geralmente o pretendente era um homem bem mais velho, escolhido pelo pai devido a interesses econômicos e sociais. Freyre ressalta que o tipo sonhado pelas mocinhas da época era um jovem na casa dos vinte anos, bacharel em Direito ou Medicina, com o anel de formatura adornando as mãos esguias. (“…) Bigodes perfumados, cabelos amaciados ou abrilhantados pelo cosmético da moda, um herói que escapava de alguma luzente oleogravura germânica ou das páginas de uma novela de Macedo”. A realidade podia ser bem distinta e o noivo poderia surgir na figura de um noveau riche português, “gordo, nédio e de meia idade, pescoço curto e mãos grosseiras”.

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É importante ressaltar que, durante o século XIX, o costume de demonstrar a posição social por meio do vestuário e de outras pequenas ostentações continuava a fazer parte da sociedade brasileira. Portanto, as crianças também tinham que se apresentar de maneira adequada aos padrões vigentes, com seriedade em seu comportamento e austeridade no vestir. As brincadeiras ficavam para os momentos mais íntimos, longe dos olhos da sociedade. – Márcia Pinna Raspanti


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D. Pedro II, aos 14 anos: um menino austero.

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