Por Mary del Priore.
“Para representar a cidade de São Paulo seria preciso ser um pintor. Para descrever São Paulo, um estatístico ou um economista. Seria preciso amontoar números e compará-los copiar tabelas e tentar transcrever o crescimento em palavras, pois não é o passado ou o presente que tornam São Paulo uma cidade tão fascinante, e sim o seu crescimento e o seu porvir, a rapidez de sua transformação, vistos em câmara lenta. É difícil ter uma imagem estática de São Paulo, porque a cidade está constantemente se ampliando, porque é demasiado irrequieta em sua transformação. A melhor maneira de mostrá-la seria através de um filme, de um daqueles filmes que de hora em hora se fosse acelerando. Nenhuma cidade do Brasil e poucas do mundo inteiro podem ser comparadas em impetuosidade à evolução dessa que é a cidade mais ambiciosa e mais dinâmica do país […] Quem hoje chega a São Paulo vivenciará um dos momentos mais interessantes. Assistirá com que energia nessa cidade se operam as transformações e como as coisas provisórias se tornam definitivas. Por toda a parte se trabalha, constroem-se viadutos, parques, passeios, abrem-se avenidas, rasgando bairros apertados, erigem-se grandes edifícios públicos, e tudo isso com planejamento – planos esses que, sem dúvida, como me disseram, sempre são ultrapassados ainda durante a construção pela rapidez do crescimento da cidade […] mas o que é essencial em São Paulo é o que ainda está por vir e não o que está completado”.
É preciso melhor descrição? Mais atualizada? Não! E esta é da pena do grande escritor alemão Stefan Zweig, quando de sua passagem pela metrópole em 1941. De lá para cá, tanto São Paulo, quanto a noção mesmo de cidade continuaram a mudar. Hoje não basta saber que São Paulo é a casa de máquinas do país. Que São Paulo é uma força que dita modismos em todas as áreas. Que ela conjuga esforços de brasileiros vindos de todas as partes do país. Que ela dá espaço para as mais expressivas manifestações de arte, possuindo, também, a maior elite cientifica da América do Sul. São Paulo é também o lugar onde se fabrica o maior número de cidadãos. Não importa de onde se venha, é aqui que melhor se transcendem as diferenças – religiosas, políticas, étnicas – para melhor assegurar a participação de todos os membros de uma comunidade aos negócios da cidade.
É aqui que se exerce uma cidadania moderna, ampliada graças à imprensa e a outras mídias de comunicação, permitindo que o cidadão paulistano participe de manifestos, de petições, de debates. E é aqui, também, que mais se vê o cidadão se interessar por seus deveres de cidadania: o voto, a solidariedade, o engajamento com os princípios universais dos direitos do homem, os cuidados com a comunidade. É aqui que as escolas se preocupam, além de instruir, em socializar o aprendizado da cidadania. Aqui, também, nasceram os pioneiros programas de transferência de renda com contrapartidas que procuram mudar a face de desumanidade que a riqueza encobre: criança vacinada, criança na escola. É aqui que mais lê, que mais se prestigia o livro e a leitura com resultados evidentes na qualificação dos seus moradores. Daqui saíram parcerias com o Terceiro Setor, dignas do primeiro Mundo. E é este esforço de milhares de anônimos que resulta num dos níveis mais elevados de desenvolvimento da América Latina.
Uma verdadeira cidade não é só um conjunto urbano. Mas é, sobretudo, o seu tecido social. Como ele vive, se pensa e sonha com uma imagem ideal de cidade. E se há uma lição que neste aniversário São Paulo dá as outras cidades do Brasil, ela tem a ver com a relação que os paulistanos, natos ou de adoção, têm com o sentimento de cidadania. Aqui, ela não é mais passiva, submissa, delegatária. Mas, sim, ativa, participativa, desejosamente exercida por cada um dos que moram e por cada qual dos que amam esta cidade.
Parabéns São Paulo!
Largo São Bento
Amei o seu texto!