Ouro e diamantes – a ilusão da riqueza

A descoberta das minas na região de Minas Gerais, Mato Grosso (Cuiabá) e de Goiás trouxe mudanças econômicas e sociais a estas regiões – e em todo território direta ou indiretamente. A primeira metade do século XVIII foi o período de maior volume de exportação de ouro do Brasil. A decadência da atividade mineradora começa na década de 60 deste mesmo século, após o apogeu da produção e da fuga do metal precioso das mãos portuguesas (geralmente para as mãos britânicas). A migração para as minas foi impressionante: vinham pessoas de toda Colônia e da Europa, seduzidos pela riqueza “fácil”. O fluxo de escravos que acompanhou esta explosão dourada foi imenso.

Ao mesmo tempo em que o ouro e as pedras brotavam da terra e dos rios (ou melhor, eram arduamente extraídos deles), o abastecimento de gêneros de primeira necessidade era precário. Passava-se fome porque ninguém queria se dedicar ao trabalho de subsistência, os alimentos e outros produtos básicos precisavam percorrer longas distâncias no lombo das mulas, pois, vinham de outras regiões do Brasil. Os preços subiam cada vez mais. Os arraiais das Minas Gerais, como as pessoas se referiam a toda área da mineração, conheceu seus dias de glória. O “Barroco Mineiro” é lembrado até hoje pelas igrejas ricamente adornadas com ouro e pedras, além das belas obras do mestre Aleijadinho. Uma pequena elite branca formava a nata daquela sociedade, geralmente era composta pelos homens de confiança da Coroa que cuidavam dos interesses de Portugal (e deles próprios), fiscalizando a mineração.

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Muita gente enriqueceu, mesmo sob o olhar vigilante da Metrópole. Escravos conseguiram suas cartas de alforria. Era uma sociedade de homens – tanto entre os brancos livres quanto entre os escravos. Foi um período em que as escravas mulheres puderam se libertar graças aos casamentos não oficiais e ao amancebamento. Foi a época das “mulatas desinquietas” de que falou Antonil, da famosa e mal falada Chica da Silva. O luxo e a miséria nunca foram tão nítidos quanto nos Oitocentos mineiros.

João Antônio Andreoni, o Antonil, em “Cultura e Opulência do Brasil” (1711), já falava sobre os perigos que a cobiça pelas minas representava e sobre os efeitos da sua descoberta na economia colonial:

“Não há cousa tão boa que não possa ser ocasião de muitos males, por culpa de quem não usa bem dela. E até nas sagradas se cometem os maiores sacrilégios. Que maravilha, pois, que sendo o ouro tão fermoso e tão precioso metal, tão útil para o comércio humano, e tão digno de se empregar nos vasos e ornamentos dos templos para o culto divino, seja pela insaciável cobiça dos homens contínuo instrumento e causa de muitos danos? Convidou a fama das minas tão abundantes do Brasil homens de toda a casta e de todas as partes, uns de cabedal, e outros, vadios. (…) E o pior é que a maior parte do ouro que se tira das minas passa em pó e em moedas para os reinos estranhos e a menor é a que fica em Portugal e nas cidades do Brasil, salvo o que se gasta em cordões, arrecadas e outros brincos, dos quais se vêem hoje carregadas as mulatas de mau viver e as negras, muito mais que as senhoras. Nem há pessoa prudente que não confesse haver Deus permitido que se descubra nas minas tanto ouro para castigar com ele ao Brasil, assim com está castigando no mesmo tempo tão abundante de guerras, aos europeus com o ferro”.

– Texto de Márcia Pinna Raspanti.

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Carlos-Juliaodiamante

Mina de diamantes (1770), de Carlos Julião.

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