Novo livro revela detalhes da intensa vida de D. Pedro II

Por Tércio Amaral.

Se a história fosse escrita com afeto, o imperador do Brasil D. Pedro II
(1825-1891) teria um espaço reservado no “mundo dos românticos”. A
historiografia recente e até a republicada, no início do novo sistema
político, dedicou e dedica diversos estudos sobre o monarca. Amantes ou
críticos, todos, sem exceção, mostram a simplicidade do soberano. Filho do
imperador D. Pedro I (1788-1834) e da arquiduquesa da Áustria D. Leopoldina de
Habsburgo (1797-1826), D. Pedro II não gostava da “pompa” comum das monarquias e revelou um traço incomum, até os dias e hoje, nos chefes de estado do Brasil: o amor pelas artes, pelas viagens e pela ciência.

Novo livro do príncipe D. Carlos Tasso de Saxe-Coburgo e Bragança, D. Pedro II
na Alemanha: uma amizade tradicional, publicado recentemente pela Editora
Senac, reforça todas estas caraterísticas do imperador. O foco, no entanto,
são suas quatro viagens à Alemanha, duas como imperador do Brasil e uma já
exilado, sem trono. O livro se divide em quatro capítulos, todos muitos bem
escritos e com (muita) paixão pelo autor. Sim, não há como negar. Casado com a
arquiduquesa Walburga de Áustria Toscana, D. Carlos é trineto do imperador.
Viajou, pesquisou em arquivos inéditos do Brasil e da Europa procurando
vestígios de seu antepassado.

A primeira viagem do imperador à Europa foi realizada entre os anos de 1871 a
1872. Por lá, desembarcou pela primeira vez no velho continente e conheceu de
perto uma das culturas que mais admirava: a alemã. Antes, passou pela costa
brasileira e visitou cidades nordestinas, como o Recife, em maio de 1871. Sua
mulher, a imperatriz d. Teresa Cristina (1822-1889) preferiu ficar no navio na
escala pela capital pernambucana. D. Pedro II pegou um trem com autoridades,
conheceu a ferrovia da Caxangá – que deve ter passado pela avenida do mesmo
nome nos dias atuais – e a estrada de ferro com destino ao bairro de Beberibe,
na Zona Norte do Recife, e Olinda. Na volta ao navio, escreveu: “Que lindo
céu. Ainda é do Brasil”. Romântico, não?

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As viagens, como a do Recife, eram repletas de agendas administrativas e,
digamos, culturais. Visitas às escolas, artistas locais e muitas vezes
instituições de caridade. Vale lembrar que D. Carlos Tasso levanta uma
comparação interessante, mas ao mesmo tempo anacrônica. D. Pedro II teria
inaugurado, nestas viagens, o sistema de financiamento de viagens. Ou seja,
com o salário congelado em seus 49 anos de reinado, o imperador fazia
empréstimos para pagar suas despesas. Também negava qualquer tratamento
privilegiado em países estrangeiros. Gostava de ser tratado como d. Pedro de
Alcântara. “O imperador fica no Brasil”. Era pura simplicidade.

Na primeira viagem à Alemanha, D. Pedro II conheceu diversas personalidades,
inclusive, numa escala antes na Inglaterra, teve um encontro com a “toda
poderosa” rainha Vitória (1819-1901), que tinha parentes alemães. Aliás, o
autor é primo da atual rainha dos ingleses Elisabeth II. Na
terra de Goethe, D. Pedro II visitou a fábrica de armamentos Krupp, logo se
tornando amigo íntimo da família que controlava a empresa. É interessante
notar que o monarca, em visita às instalações, pedia diversos relatórios sobre
o funcionamento de máquinas dentro da fábrica. A impressão que se tem no livro
é o que o imperador poderia incomodar com tanta curiosidade. Parecia um
técnico, mas estava interessado mesmo era na industrialização do Brasil.

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Mas nem só de técnica vivia o imperador no estrangeiro. Na sua segunda viagem
à Europa, entre os anos de 1876 a 1877, conheceu descendentes do poeta Johann
Wolfgang von Goethe (1749-1832), ganhando escrituras originais do alemão pelas
mãos de netos, bisnetos… Também foi na Alemanha que D. Pedro II reconheceu
no compositor Richard Wagner (1813-1883). Era na Alemanha, também, que o
imperador visitava o túmulo de sua segunda filha d. Lepoldina (1847-1871),
casada com o príncipe Luís Augusto de Saxe-Coburgo – Duque de Saxe (1945-
1907). A Alemanha era um lugar que o imperador se sentia em casa, quase como no
Brasil.

Na trilha destes relatos, o livro de d. Carlos Tasso se insere em duas
frentes. A primeira é de agregar valor historiográfico a trabalhos que já
contribuíram com o tema, a exemplo da biografia As barbas do imperador, de
Lilia Moritz Schwarcz, agraciada pelo prêmio Jaboti. A autora brinca e chama o
monarca de “imperador itinerante”, trazendo a curiosidade de ter um chefe de
estado interessado pelas ciências e a cultura em geral num país escravista
como o Brasil. Em outra linha, a historiadora Mary del Priore, em o recente O
castelo de papel, numa biografia cruzada sobre a filha do imperador, a
princesa Isabel (1846-1921) e o príncipe francês Luís Gastão – Conde d’Eu
(1842-1922), chama atenção para o fato das longas viagens: a ausência de uma
política de sucessão no Império. A monarquia, sim, caiu! O imperador deixou
saudades e admiradores, nem que eles estejam restritos à esfera familiar ou
dos leitores de história.

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Por fim, a obra agrega à trajetória da família imperial brasileira. E, claro,
revoluciona num sentido específico. Alguns netos da princesa Isabel, como
Isabel de Orléans – Condessa de Paris (1911-2003) e d. João Maria de Orléans e
Bragança (1916-2005) se dedicaram, sobretudo, às suas biografias pessoais. Ou
seja, relataram momentos difíceis da família após a queda da monarquia, em
1889, no exílio, mas esqueceram de demonstrar, por vezes, a versão deles sobre
os parentes do passado. Assinada por J. A. Gueiros, História de um príncipe, a
biografia de d. João relata, por exemplo, que d. Pedro II era republicano. Ou
ao menos, de alma republicana, influenciado, claro, pela historiografia
positivista alemã. D. Carlos Tasso faz um complemento. Agrega valor a tudo
isso e com documentos inéditos. É um príncipe que escreve sobre história.
História que já passou, mas que é cheia de afeto e é capaz de apaixonar.

Tércio Amaral
Repórter da editoria de Política
Diário de Pernambuco

d. pedro II na alemanha

 

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