NAIR DE TEFFÉ: AS MULHERES E A CARICATURA NO BRASIL

Por Natania Nogueira.

Nair de Teffé Von Hoonholtz nasceu na cidade do Rio de Janeiro, no ano de 1886, em plena crise do Império e nos anos finais da escravidão. Filha de Antônio Luiz Von Hoonholtz, o Barão de Teffé, neta do Conde prussiano, Frederico Guilherme Von Hoonholtz, e de Maria Luiza Dootwoort. O Barão de Teffé, oficial de alta patente da marinha brasileira, herói da Guerra do Paraguai, homem culto, figura proeminente do Império, realizou a transição para a República sem muitos problemas.

Filha de diplomata, conheceu bem cedo outras nações e recebeu grande parte da sua educação no exterior. Nair partiu com a família para a Europa pela primeira vez quando tinha apenas um ano de idade. O retorno definitivo para o Brasil aconteceria somente em 1905. Na Europa, o Barão procurou oferecer aos seus filhos uma educação esmerada, digna da realeza. Nair era considerada uma menina prodígio, mimada pelo pai e pelos irmãos. Estudou nas melhores escolas do sul da França e lá descobriu seu talento para o desenho. Com nove anos, produziu a primeira caricatura.

Seu talento para a caricatura surgiu bem cedo. Seu primeiro desenho caricaturado teve como modelo Madame Carrier, após uma visita, como forma de protesto contra a senhora idosa a quem não suportava. Depois, teria feito outra caricatura de uma freira do convento “Sainte Ursule” onde estudava. Daí em diante, incentivada pelo pai, foi desenvolvendo e aperfeiçoando a técnica que mais tarde faria dela a primeira mulher caricaturista do Brasil a publicar seus trabalhos.  Nascia assim Rian (pseudônimo adotado por ela), menina prodígio, fruto de uma família aristocrática, criada como princesa, a quem as excentricidades eram perdoadas e justificadas.

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Nair era uma mulher culta e refinada, falava muitos idiomas, pintava, desenhava, tocava piano com perfeição. Foi criada para ser uma mulher moderna, da elite, conhecedora do fino trato, letrada, uma verdadeira filha de diplomata. Durante a juventude animou bailes e saraus no Rio de Janeiro e em Petrópolis, onde o Barão fixou residência ao retornar ao Brasil. Lá começou a investir na carreira de caricaturista.  Fez suas primeiras exposições com caricaturas de amigas, moças da sociedade local. Em 1909 publicou a primeira caricatura, que retratava a artista francesa Réjane, na Fon-Fon!

Em 1912, casou-se com o Marechal Hermes da Fonseca, então presidente da República. A partir de então, a caricaturista vai aos poucos dando espaço para a primeira dama e, posteriormente, para a esposa do ex-presidente. A política passa a envolver sua vida, que acaba sendo eclipsada pela imagem do Marechal.

Rian não abandona sua arte, mas não consegue mais se separar da imagem de esposa de Hermes ao ponto de ela mesma considerá-lo como o foco principal de sua história de vida, contada pela autora na autobiografia “A verdade sobre a Revolução de 1922”. Dados sobre a caricaturista se tornam raros a partir de 1926, quando abandona o cenário artístico. Em fins de 1959, retorna incentivada por Herman Lima, que pediu à caricaturista que refizesse algumas de suas caricaturas cujos originais encontravam-se impublicáveis.

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Rian foi uma pioneira na caricatura no Brasil e há quem afirme que tenha sido a primeira mulher no mundo a publicar uma caricatura. Ela adentra a um espaço tipicamente masculino. As mulheres da elite aprendiam desenho, pintura e música muito mais com o objetivo de se mostrarem prendadas para seus futuros maridos do que necessariamente para exercer profissionalmente um ofício. Rian transformou uma brincadeira de criança, uma travessura de salão em uma arte reconhecida.

Réjane

Caricatura de Réjane, publicada na Fon-Fon! de 31 de julho de 1909 (SANTOS, 1999: 116).

6 Comentários

  1. Naiara Souza
  2. Renato Teffe
  3. Niltin Rodrigues Martins
    • Zé Roberto Graúna

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