Lisboa: uma visita ao passado

Ano de 1500: debruçada sobre as águas do Tejo, estendia-se a
ensolarada Lisboa. Ruas estreitas e tortuosas serpenteavam em meio ao
casario branco e baixo que cobria as colinas, em cujas dobras
aninhavam-se igrejas e pequenas construções coladas umas às outras.
Sobressaindo-se a todas elas, erguia-se o Castelo: sólido bloco de
pedras a lembrar os tempos em que os mouros ameaçavam os muros da
capital do Reino. Um labirinto de ruelas, becos, fontes e pequenos
quintais marcava o perfil da cidade. Reformas sobrepunham telheiros na
frente das casas para protegê-las da chuva. Também proliferavam
balcões e sacadas. Sucessivas ampliações sobre antigos alicerces
tornavam as ruas cada vez mais apertadas.

 
Junto ao rio erguia-se a imponente torre do Paço da Ribeira, edifício
irregular, de várias dependências subordinadas às instalações do rei, que
ali passou a residir em 1503. Encontravam-se, nesse palácio, desde
aposentos familiares a salas da administração do Império, como o
Tribunal do Desembargo do Paço e, posteriormente, o Conselho da
Fazenda e o Conselho de Estado. Quase parte do mesmo conjunto, nos
armazéns do arsenal, se amontoavam armamentos de toda espécie.
Comerciantes de variada proveniência cruzavam apressados o Terreiro do Paço, arena retangular na qual se fechavam os negócios e contavam-se as novidades do tempo. Nas ruas, como a da Ourivesaria da Prata, da Correaria ou a rua Nova dos Ferros, os artesãos especializados se reuniam, conforme a tradição medieval. Sob os arcos do Rossio, outra praça importante, ponto de transição entre a cidade e o campo, há muito se vendiam alimentos sobre tabuleiros. Os gritos dos vendilhões de ovos, peixe fresco, água ou pão, enchiam o ar. Mulheres, brancas e negras, saíam da Ribeira com panelões cheios de arroz-doce – introduzido na península Ibérica pelos árabes, com a denominação de “arruzz com mel” – e de cuscuz marroquino, oferecendo as iguarias de porta em porta.

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Um pouco mais abaixo, na praia ribeirinha, estendia-se a Ribeira das
Naus, com suas oficinas e seus barcos prestes a ser lançados ao Tejo.
Ao longo dela, instalavam-se os malcozinhados, pequenas tabernas
fumacentas nas quais se reuniam marinheiros, prostitutas, escravos e trabalhadores braçais pobres para consumir sardinhas fritas e vinho barato. Nas águas turvas e calmas do rio desfilavam tanto embarcações transportando alimentos dos arredores, quanto barcos enfeitados, nos quais músicos embalavam a conversa dos bem-vestidos membros da Corte de d. Manuel I. No porto, tremulavam naus mercantes vindas de Gênova, Veneza, Normandia, Bristol ou de Flandres.

– Mary del Priore (extraído de “Uma Breve História do Brasil”).

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D. Manuel I 

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