“Leopoldina e D. Pedro I – a vida privada na corte”

    Chegou a vez dos paulistas se agitarem e, em agosto, lá se vai Pedro a ver se os acalma, como acalmara os mineiros. Outra vez na Regência, cabe a Leopoldina, iniciando mais uma gravidez, receber nova intimação para a volta de Pedro e para que seja preso José Bonifácio. E informações de que, na Assembleia, em Lisboa, propõe-se que Pedro seja deserdado, e Miguel declarado herdeiro do trono. E um aviso de que os portugueses haviam acabado de tomar a Bahia. 
    Diante da gravidade dos fatos, no dia 2 de setembro, ela convoca o Conselho. A opinião é unânime, impossível contemporizar mais um dia sequer. É redigida uma resposta às Cortes, que deve ser sancionada pelo príncipe antes de ser enviada, declarando separados os reinos. Um mensageiro é chamado. Arrebente quantos cavalos forem necessários, mas faça chegar às mãos de D. Pedro, no menor tempo possível, o despacho das Cortes, junto com a resposta sugerida pelos conselheiros brasileiros, para que ele a devolva assinada.
Leopoldina manda junto uma carta, que submete à aprovação de Andrada:

    Pedro, o Brasil está como um vulcão. As Cortes ordenam vossa partida imediatamente, ameaçam-vos e humilham-vos. Meu coração de mulher e de esposa prevê desgraças se partirmos agora para Lisboa… O rei e a rainha de Portugal não são mais reis, não governam mais… o Brasil será em vossas mãos um grande país, o Brasil vos quer para seu monarca. Com o vosso apoio ou sem o vosso apoio ele fará sua separação. O pomo está maduro, colhei-o já, senão apodrece.

    José Bonifácio murmura: 
– Ah, se ele fosse ela… 
Pede permissão para acrescentar algumas linhas.

    Aconselho Vossa Alteza que fique e faça do Brasil um reino feliz e separado de Portugal, que é hoje escravo das Cortes despóticas. Senhor, ninguém mais que vossa esposa deseja vossa felicidade, e ela vos diz, em carta que será entregue com esta, que Vossa Alteza deve ficar. Se não ficar, correrão rios de sangue nesta grande e nobre terra, tão querida de vosso real pai, que já não governa em Portugal.

    Parte o mensageiro, nada há a fazer, senão suportar com paciência a longa espera. Mal parando para dormir, Leopoldina calcula, trocando cavalos com frequência, no mínimo uns seis dias, até que as cartas cheguem ao destino, outros tantos para vir a resposta.

Trecho do livro “Leopoldina e Pedro I – a vida privada na corte”, de Sonia Sant’Anna, em reedição pela Ibis Libris Editora.

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  1. fernando barbosa de mello

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