Iniciação sexual nos tempos coloniais: os “perigos” da masturbação e da homossexualidade

        A adolescência era a idade da iniciação sexual. Os rapazes principiavam com frutas – como a melancia –, árvores ou animais. O onanismo – ou masturbação – era severamente condenado. Ao jovem que se masturbava, fazia-se medo com o “Mão de Cabelo” e outros monstros do folclore. As flores vermelhas do mandacaru, os ocos de bananeira, a simples galinhas ou as ancas largas das vacas, tão úteis nos primeiros passos da vida sexual, passaram a ser perseguidas por pais, médicos e confessores. A masturbação destruía famílias. Dizia-se que não apenas fazia mal à saúde, como prejudicava o trabalho e os estudos por esgotar as forças. Suprimiam-se os bolsos das calças. Ameaçavam-se as meninas bonitas de ficarem feias. Proibia-se dormir de dorso. Eram proibidas as leituras picantes – “as pestilenciais novelas” ou a poesia erótica, assim como a ingestão de chá e vinho. Nos livros de medicina, a descrição dos masturbadores não variava: hálito forte, gengivas e lábios descorados, espinhas em toda a parte e perda de memória.

       Amores homoeróticos também tinham início nessa faixa etária, como comprovam os estudantes Jerônimo de Parada e Bastião d´Aguiar que tiveram “acessos nefandos e ajuntamento de natura” com homens mais velhos, conforme registrou a Visita da Inquisição à Bahia, em 1591. Já o jovem pajem João Batista, da Ilha da Madeira, em visita a casa de um sapateiro para encomendar chinelas para seu amo, depois de ouvir “palavras torpes” e comer pão e frutas, deixou-se seduzir. Mas fugiu antes que seu parceiro ejaculasse, livrando-se, segundo sua confissão ao Visitador de castigos maiores por parte do Santo Oficio.

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      Entre rapazes e moças se desenvolvia um rápido namoro. As redes e esteiras serviam para os embates amorosos. Para encontros eram utilizados os “matos”, as praias, os quintais, enfim, todo o canto que desse um pouco de privacidade. Muitas eram seduzidas e – como se dizia, então – “levadas de sua virgindade”. Cair no mundo era o pior que podia acontecer às moças que, muitas vezes, eram expulsas de casa para não cobrir a família de vergonha.

     Adolescência significou, durante séculos, a passagem entre o mundo infantil e o adulto. Mas não só. Tais passagens obedeciam a rituais precisos que implicavam em afirmar a identidade de determinada faixa etária, mas, também, de grupos vinculados a condições de vida diferentes: na cidade ou no campo, entre jovens pobres ou ricos, educados ou analfabetos. E se durante séculos a noção de adolescência foi conotada negativamente, foi preciso esperar o século XX para inaugurar uma fase positiva e uma nova leitura desta fase da vida.

  • Mary del Priore. “História da gente Brasileira: Colônia”. Editora, LeYa, 2016.

gregoriohensen

Amores homoeróticos: vigilância.

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