Feliz Ano Novo! Mais respeito para todos nós.

Época de correria, o final do ano deixa pouco tempo para balanços. Eles deveriam, contudo, ser obrigatórios. Há poucos momentos de passagem tão simbólicos, quanto este que nos leva de um decimal ao outro. Momento em que, ao som de fogos, separamos o joio do trigo. Em que, pé direito no chão e uvas verdes na boca, fazemos opções, promessas e tomamos decisões. Se tivesse que escolher uma palavra para botar no meu balanço escolheria uma: respeito. É o que quero para mim e para todos. O que desejo para o país. E, por que não, para o mundo.

Muito tem se falado em dignidade, transparência e esperança no próximo ano. Mas, eu gostaria de incluir respeito. Esse conceito discreto, distante que se mistura com estima e deferência. Respeito, uma virtude? Só se seu objeto for digno. Isto, pois existe uma forma de respeito feita de conformismo e submissão às hierarquias que nasce, simplesmente, do adestramento. Quando se trata de justificar uma obediência sem discussão, sem reflexão, o respeito é uma porta aberta para a irresponsabilidade. Não falo disso. Lembro, ao contrário, da noção de respeito como uma tomada de consciência que me faz “reconhecer a humanidade na pessoa do Outro, assim, como a reconheço em mim”, como diria o filósofo Kant. E isto, porque a reciprocidade parece ser uma parte essencial do sentimento de respeito. E este sentimento é retenção, suspensão do ato violento, blasfematório ou destruidor. Ele impõe, silenciosamente e por um gesto tácito, limites.

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Neste novo ano, gostaria de dizer basta à desvalorização do respeito dentro de nossa vida cotidiana. Voltar a respeitar o outro, a palavra dada, o silêncio dos celulares, a vaga na garagem e as pessoas em fila para respeitar-se a si mesmo. Para respeitar os direitos e a dignidade de cada um. Para respeitar a diferença, a verdade, a lei. O respeito tem a ver com direito, mas, também, com gente, animais, coisas, natureza, arte, o que é bom, o que é santo, o que é sagrado.

Colocar esta palavra no balanço é tão mais importante quanto vivemos, mais e mais, em sociedades que reduziram pessoas à funções, substituídas quando não servem mais. É preciso, pois, redescobrir este sentimento indispensável para que possamos viver juntos. Lembrar sua necessidade existencial e sua fragilidade. Vamos entrar este ano com respeito.

– Mary del Priore.

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  1. Dirce de Sá Freire

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