ESPAÇO URBANO: ENSINO, PESQUISA, MEMÓRIA E PRESERVAÇÃO

Por Natania Nogueira.

Quando trabalhamos com educação patrimonial, muitas vezes nos atemos ao discurso e esquecemos a prática. Embora a teoria seja fundamental, embora refletir sobre questões relevantes para a comunidade seja o primeiro passo para tomar atitudes igualmente relevantes, chega um momento em que a prática deve dar lugar à teoria.

O uso de textos, cartilhas, documentários e qualquer outro tipo de material deve e pode ajudar a estruturar dentro da sala de aula o que o professor deseja levar ao seu aluno em forma de conteúdo, de conhecimento abstrato. Mas é nas ruas da cidade, no espaço urbano, que é um espaço vivo, é que o educador vai realmente poder ver materializar todo seu esforço.

O espaço urbano abriga muitos lugares de memória, expressão usada por Pierre Nora. Muitos desses lugares passam despercebidos no dia a dia e podem ser redescobertos a partir da educação patrimonial. Eles passam, essa forma a assumir um ou mais significados dentro da cidade e dentro da memória coletiva.  Mas é preciso que eles despertem sentimentos, sensações, que podem se estimuladas a partir de uma vivência, de um trabalho de campo.

O espaço urbano é um espaço de pesquisa e de ensino que não deve ser subestimado. Casas, edifícios públicos ou privados, monumentos, pontes, ruas e árvores. Tudo que compõe a paisagem urbana serve ao trabalho de conscientização, de preservação. O estudante, nas diversas faixas etárias, nas diversas modalidades do ensino, encontra na localidade onde reside traços da memória e da história no patrimônio urbano que o cerca.

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Aquela casinha simples, com a pintura da fachada descascada pela qual o jovem passa todos os dia ao ir para a escola, pode despertar nele a curiosidade com relação ao passado e mesmo ao presente. Ele pode passar a questionar que morou ali, quando foi construída, como deve ser seu interior e o por que do seu estado atual de abandono. A construção deixa de ser um elemento aleatório da paisagem urbana e passa a ter um significado.

Um sugestão simples e viável é o uso do espaço urbano para analisar a forma como o patrimônio arquitetônico de uma cidade está sendo ou não preservado. Realizei uma experiência com alunos no ano de 2012 que buscou justamente isso: avaliar como a cidade trata seu patrimônio.

Munidos de máquinas fotográficas e divididos em equipes eles percorreram bairros da cidade fotografando casas e edifícios e avaliando o grau de conservação de cada um. Na ordem, o trabalho de pesquisa de campo seguiu as seguintes etapa:

  1.  Fotografar e pesquisar a história de edificações antigas da cidade;
  2. Verificar seu grau de conservação;
  3. Dissertar sobre as impressões que tiveram da experiência;

Durante a execução da atividade os alunos me procuraram para tirar dúvidas, mostrar fotografias, comentar sobre visitas feitas a casas antigas.  Chegaram a me convidar para conhecer alguns lugares que eles haviam descoberto e que eu mesma ainda não conhecia. Ficaram impressionados com relatos de pessoas mais velhas e questionaram as mudanças ocorridas com o tempo na cidade.

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Além de conhecimento sobre alguns aspectos da história local, à medida que desenvolveram o trabalho, os alunos também tiveram que fazer uso de habilidades de escrita (redação) e aprender a utilizar o celular e câmera digital de uma forma não-recreativa. O resultado foi um conjunto de imagens que rendeu um longo debate sobre conservação e desenvolvimento urbano.

Assim, retomamos às reflexões sobre a preservação do patrimônio urbano local mas agora não apenas munidos de teoria mas também de uma experiência, de uma vivência que fez a diferença na formação de uma consciência cívica, do reconhecimento na necessidade de aliar o desenvolvimento com a preservação.

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