Educação: caso de polícia?

Fala-se muito que o Brasil deveria dar mais atenção à educação. O tema é recorrente na boca dos políticos (de direita ou de esquerda) e da população, em geral. E realmente o país precisa investir mais e, principalmente, melhor na educação. Já tratamos aqui neste blog na situação difícil dos professores da rede pública, do salário aviltante, das péssimas condições, da falta de estímulo para que os educadores continuem a estudar. Mas, apesar dos discursos e promessas, todos os anos, vemos a categoria em greve por aumento de salário e por mudanças no sistema.

E assistimos também ao tratamento desumano que os governos dispensam aos nossos professores.  Repressão policial, com direito a bombas de “efeito moral” (?), gás lacrimogêneo, spray de pimenta e muita paulada. A sociedade entorpecida assiste a essas cenas de violência gratuita, sem qualquer reação. Alguns se convencem de que os professores estão tendo o que merecem, pois fazem greves “políticas” – como se alguma não o fosse. No clima de disputa de final de campeonato que impera no país, os mesmos que clamam por educação justificam os atos violentos contra os educadores afirmando que esses se prestam aos interesses dos sindicatos. E, com isso, evitam a espinhosa discussão sobre o que realmente interessa: a qualidade da educação.

Em São Paulo, estamos assistindo a um embate entre o atual governador e os estudantes da rede pública. O governo anunciou, de maneira repentina, uma “reorganização” do ensino que afetaria mais de 300 mil alunos e um grande número de professores e funcionários. A proposta, em linhas gerais, prevê a realocação desses estudantes e o fechamento de 94 escolas. A ideia é que cada unidade atenda apenas estudantes de um mesmo ciclo. Outra justificativa é de que o número de matrículas tem diminuído, gerando ociosidade em determinadas escolas.

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As medidas não agradaram. Pais, educadores e alunos dizem que não foram consultados pelo governo para que se construísse democraticamente uma proposta que pudesse melhorar a qualidade do ensino em São Paulo. Estudantes se mobilizaram para que as suas escolas não fossem fechadas. O governo não se abalou e tentou impor sua decisão à rede pública. Os alunos ocuparam as escolas e pedem o fim da “reorganização”.  E qual foi a reação do governo? Como já ocorre com os professores, decidiu-se que a Polícia Militar seria a melhor alternativa para “negociar” com os alunos. Escolas foram cercadas pela polícia, que pressionava os alunos pela desocupação. Isso só aumentou o problema.

Hoje, são quase 200 unidades ocupadas. Os estudantes se organizaram, contaram com o apoio dos pais e professores, e de alguns movimentos sociais, e decidiram enfrentar o governo. Não houve vandalismo, roubos ou baderna (a não ser em casos isolados, que parece não terem sido causados pelos protestantes). Conseguiram a simpatia da sociedade. A polícia agiu com truculência, e o inacreditável aconteceu: adolescentes e crianças algemados, espancados, presos; bombas e gás lacrimogêneo; spray de pimenta no olhos dos jovens. Até os mais resistentes às manifestações se chocaram com o clima de guerra.

Parece que o governo irá recuar frente à péssima repercussão que a desastrada ação policial teve junto à opinião pública. Entretanto, permanecem gravadas em nossa mente as vergonhosas cenas. As perguntas que ficam são: quando os governos (e aqui não falo só de SP) irão tratar as questões de educação dessa forma? Quem pode achar que a polícia é melhor interlocutora para estudantes e professores? Não é hora de ouvir as reivindicações da categoria, dos pais e dos alunos?  Enquanto não se construir uma gestão democrática da educação no Brasil continuaremos a amargar índices negativos na avaliação de nossos estudantes. E, mais importante, enquanto a população não abraçar de verdade essa bandeira não haverá melhora. Não importa se nossos filhos frequentam escolas particulares, e educação pública é um patrimônio nosso, temos obrigação de lutar por ela. – Texto de Márcia Pinna Raspanti.

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Fotos: Huffpost Brasil.

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