A veterana Elza Soares se manifestou sobre o assunto e colocou o dedo na ferida:
“Quer ser elegante? Então pense no quanto pode machucar o próximo, sua memória, os flagelos do seu povo e suas origens, ao escolher um tema para celebrar uma festa ou “enfeitar” um momento feliz de sua vida. Felicidade às custas do constrangimento do próximo, seja ele de qual raça for, não é felicidade, é dor. No fundo é fácil perceber esse limite tênue. Elegância é pensar antes de agir, por mais inocente que sua ação pareça ser. A carne mais barata do mercado FOI a carne negra e agora NÃO é mais. Continuaremos “desenhando” isso pra quem não compreendeu ainda. Escravizar, nem de brincadeira.”
O racismo cultural nos remete à colonização, á escravidão e à desqualificação das chamadas “raças inferiores”. Ao negro, sempre foram reservadas as funções subalternas, braçais – por que o trabalho era considerado degradante. Os viajantes estrangeiros ficavam horrorizados com muitas das nossas sinhás que não se levantavam para pegar um copo de água, mas ordenavam que suas mucamas o fizessem. Independente das intenções da anfitriã (que pediu desculpas pelo ocorrido), as fotos da festa despertaram as lembranças de nosso passado escravista. As imagens têm um forte apelo simbólico e evocaram tristes memórias, nesse caso.
Ser mulher, em uma sociedade patriarcal, era ser inferior. A mulher tinha como função servir o homem: as brancas como parideiras e donas de casa; as negras para trabalhar e para os apetites sexuais. “Branca para casar, negra para trabalhar, mulata para f…”, era o ditado da época. Hoje, passados mais de 120 anos da abolição da escravidão ainda pagamos um preço alto pelo nosso passado. Somos racistas, mas negamos veementemente (conheço poucos brasileiros que admitem abertamente o racismo). Queremos crer que vivemos na tal “democracia racial”. Muitos desqualificam esse desconforto que o racismo causa, negando a nossa História.
Joaquim Nabuco, em “Minha Formação”, no final do século XIX, já alertava acertadamente que “a escravidão permanecerá por muito tempo como característica nacional do Brasil”. Essa frase não poderia ser mais acertada…
- Texto de Márcia Pinna Raspanti.
Sobre a Democracia Racial este conceito também foi bem criticado por Florestan Fernandes.
nesta festa estavam o governador da bahia, caetano veloso, a orquestra rumpilezz e demais autoridades e os considerados da “alta” sociedade . esta platéia ( tendo alguns “ativistas” e supostos defensores de minorias e etc) que vivenciava a festa, ninguém se incomodou com nada? a donata quis repercussão na mídia, como pessoa que trabalha com imagem, deveria saber q uma imagem tem leituras e interpretações. acredito qd ela diz q não foi a intenção, até porq a própria bahia torna espetáculo e teatro suas tradições e costumes. assim, sendo uma pessoa da area de imagem, não deveria ser mais discreta e fazer a festa sem ostentar?
*não me refiro a fazer algo errado em segredo, por favor.
Concordo. Faltou bom senso. O que é estranho, já que Donata é da área de comunicação.
Até que enfim encontro um comentário lúcido, sem amor ou ódio, diante de uma situação, no mínimo, constrangedora.
Está difícil viver em meio a tantos espíritos sempre armados, eu desde sempre me pergunto antes de agir, ” e se fosse comigo?” Isso não quer dizer que eu não erre, mas erro menos.
Infelizmente, as redes sociais se tornaram verdadeiros tribunais. Acredito que, em vez de julgar as pessoas, podemos usar esse tipo de situação para refletir um pouco sobre nossa sociedade. Obrigada!
Tal como no filme “O diabo veste Prada”. se me permite ; “democracia racial”? A “raça” humana e suas variantes de cor de pele não é uma só ?
“Democracia racial” é um conceito apresentado inicialmente por Gilberto Freyre, e que conquistou muitos adeptos em meados do século passado. Por essa vertente, hoje já superada por vários estudos, no Brasil, as relações raciais seriam menos violentas e até harmônicas. Apesar de ter sido refutado na Sociologia, parte da população brasileira ainda enxerga a nossa sociedade como não racista, em comparação a outros países, como Estados Unidos, por exemplo.