A princesa-berinjela

As más línguas da época não perdoavam e comparavam a figura da princesa Isabel a uma berinjela. E as críticas não se limitavam aos seus aspectos físicos: era considerada beata demais, apagada, submissa ao pai a e ao marido, além de pouco interessada em política. Outra fonte de desconfiança era seu casamento com o conde D’Eu, apelidado de “o francês”, que era visto com antipatia por todos. A demora em ter filhos foi outro motivo de maledicências. A herdeira de D. Pedro II só desfrutou de rápido prestígio após a assinatura da Lei Áurea – mesmo assim, a medida foi extremamente impopular entre os fazendeiros, classe que sempre apoiara a monarquia. Mas, nesse período, ela pôde sentir a afeição do povo e dos abolicionistas, que a chamavam de “A Redentora”.

Isabel era como boa parte das mulheres da época. Educada para obedecer o pai e o futuro marido, ela se esforçava ao máximo para ser uma boa esposa e mãe. Estava mais interessada em questões doméstica que nas de Estado. Era simples, ingênua e muito religiosa. Orientada pela Condessa de Barral, mais até que pela própria mãe, a princesa tentou aprender a se comportar nos salões europeus. Em meio ao terrível conflito da Guerra do Paraguai, estava mais preocupada com o bem estar do marido que com os desdobramentos políticos do confronto.

Meu bem amado do coração, onde você estaria nessas horas? Quando o verei, meu queridinho […] quando poderei te beijar sem ser nas cartas?” Quem assinava era “a pombinha, a engraçadinha, sua queridinha”. Assim a princesa manifestava seu carinho ao marido, conde d´Eu, quando esse foi por um fim à Guerra do Paraguai. Depois de muito buscar Solano López, um caporal do Regimento de 19 cavalaria o matou a golpes de lança. Seu nome Chico Diabo. Gastão, marido de Isabel recebeu a notícia a bordo de um vapor na direção da cidade de Conceição. O casal era feliz e se amava, podemos perceber pela correspondência  e depoimentos da época.

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Durante os períodos de regência, quando o pai se ausentava do país, a herdeira mantinha-se o mais discreta possível, seguindo as orientações paternas. E não disfarçava o desconforto que lhe causava governar. Mesmo assim hostilizou o sobrinho Pedro Augusto – filho de sua irmã Leopoldina falecida precocemente, e o neto preferido do imperador – por suas ambições de se tornar herdeiro do trono. A imagem negativa de Isabel contribuiu, sem dúvida, para o final da monarquia no Brasil. O próprio D. Pedro II parecia não acreditar na competência da filha para sucedê-lo.

Em “O Castelo de Papel”, Mary del Priore, refuta a ideia de que a princesa não era aceita pelo simples fato de ser mulher. “A tese não se sustenta. As brasileiras foram, desde sempre, matriarcas e matronas que faziam viver suas famílias e dependentes. (…) Ninguém estranhava as ordens de uma mulher e muitos dos políticos e grandes do Império tiveram mães invasivas, mandonas e duronas. O importante era ser ‘filha obediente, esposa dedicada e mãe exemplar’. Tudo o que Isabel representava”. O maior problema parece ter sido mesmo a personalidade da herdeira, que não se interessava por política, preferindo falar sobre os filhos, o marido, música e jardinagem. Como diz Mary: “Na literatura, houve um homem que não quis ser rei. Na vida real, ela foi a mulher que não queria ser imperatriz”.

– Márcia Pinna Raspanti

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Isabel com o filho Pedro no colo, em 1876; Com o conde D’Eu (sentados), o filho, Luís, a nora e os netos, em uma fotografia de 1913.

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5 Comentários

  1. Marisa Guilherme
  2. Karine Ferreira

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