Em meio à toda a polêmica com relação ao “rei do camarote” – tema que dominou as conversas nos últimos dias – comecei a refletir um pouco sobre a ostentação na sociedade brasileira – que vem desde os tempos coloniais.
No Brasil colônia, havia uma grande preocupação, entre os mais abastados e mesmo entre os menos favorecidos, em exteriorizar a riqueza. Não bastava ser rico, era necessário deixar bem clara a distância em relação aos mais pobres, a “arraia miúda”, como diziam na época. Vestir-se bem, ter cavalos e carruagens, exibir uma plantel de escravos, usar joias e também evitar qualquer “trabalho mecânico”, ou seja qualquer esforço físico. A senhoras da sociedade nem sequer levantavam para pegar um copo d’água, para não serem confundidas com as “negras escravas”. O ócio era sinônimo de status.
Emanuel Araújo, em “O Teatro dos Vícios” nos dá uma definição da “presunção de fidalguia”, ou seja, da obsessão que havia entre os membros da elite da época para se parecerem com os nobres europeus. Vejamos: “Não bastava ganhar muito dinheiro e com ele comprar casas e terras. Havia que ser reconhecido e, se possível, admirado como pessoa de fino trato, algo próximo à fidalguia, o que não era pouco numa terra onde a nobreza de sangue significava o topo da pirâmide social”.
O exibicionismo dos colonos inspirou muitos versos maldosos de Gregório de Matos, que ridicularizava os “nobres” da terra. O jesuíta Antônio Vieira, em 1654, chamava a atenção dos fiéis em relação aos gastos com roupas e joias, trazidas em navios que vinham de Portugal. “Quem pesca a vida dos homens do Maranhão e com o quê? Um homem do mar com retalhos de pano (mercador)”.
Os viajantes estrangeiros também se espantavam com os excessos dos moradores locais. “As mulheres do Rio de Janeiro vestem-se como as de Portugal. Durante a Semana Santa, quando as vestimentas ganham maior luxo, as saias são abertas na frente e deixam à mostra um saiote bordado de ouro e prata. (…) portam grande quantidade de pedras preciosas e fazem-se acompanhar de igual número de escravos”, contava Juan Francisco de Aguirre, que esteve por aqui em março de 1782.
O uso das liteiras, sempre carregadas nos ombros dos escravos, também era um costume que causava estranheza. “Raramente, as damas do Rio saem a pé na rua. Em geral, elas utilizam umas cadeiras, abertas de ambos os lados, que os escravos , com o apoio de duas varas compridas, carregam à maneira dos chineses”, relatava Lorde Macartney, em setembro de 1792.
Os títulos de nobreza, na maioria das vezes, eram comprados ou falsos. Mentir sobre a árvore genealógica era comum, mesmo porque um nobre naquela época deveria ter “sangue puro”, livre de qualquer traço mouro, judeu ou negro. Como poucos realmente tinham essa ascendência sem “mácula” – para a sociedade de então, obviamente – o jeito era mentir.
Enfim, eram tempos em que “parecer” era tão importante como “ser”. Logicamente, o momento histórico hoje é muito diferente, mas acho que cabe pensar a respeito: Será que mudamos tanto assim?? – Márcia Pinna Raspanti.
Senhora indo à missa: liteira, escravos e joias. (Debret)
Não mudou e não mudará,muitos não acreditam em reencarnação , entretanto,poucos percebem que:. O ciclo contínua….(só trocamos a vestimentas).
Nós continuamos,a roubar,matar,estrupar,assaltar diligências,matar pôr fanatismo , político,religioso,etc…. enfim seguimos a história.
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É TAL LUTA DE CLASSES, ENQUANTO ALGUNS ACHAREM NORMAL A EXPLORAÇÃO DO HOMEM PELO HOMEM, MUITAS DESTAS SITUAÇÕES CONTINUARÃO SE REPETINDO, APESAR DE ALGUNS AVANÇOS!!!
Como é difícil sair disso. Como diria Cazuza, “eu vejo um museu de grandes novidades”.
Tenho a certeza que continuará sempre,
Muito oportuno. Continuamos vivenciando ostentações e aparências e todas as consequências.
Não mudou muito não…