A des(elegância) da família imperial – D. Pedro e Leopoldina

 Por Márcia Pinna Raspanti.

        Fugindo das guerras napoleônicas na Europa, a Família Real Portuguesa iria desembarcar no Brasil, em 1808. D. João VI, Carlota Joaquina e sua corte até que tentavam copiar os modismos da França. Não tinham, porém, lastro suficiente para reproduzir o luxo e a ostentação daquela rica corte nem a imponência dos poderosos, conforme os relatos da época. D. João VI era o exemplo do desleixo, muito gordo e desprovido de beleza, com suas casacas sujas, calções surrados e aparência pouco asseada. Mesmo assim, na cerimônia de coroação – que ocorreu apenas em 1818, apesar de ele já ser rei desde 1816 –, surgiu com uma capa bordada com fios de ouro e roupas de tecidos nobres.

Nas ocasiões formais, o monarca aparece elegantemente retratado com calças presas logo abaixo dos joelhos, casaca tipo fraque e de golas altas, colete bordado, camisa branca, meias de seda e sapatinhos baixos e com grandes fivelas de metal (provavelmente ouro). Galões e condecorações douradas lhe enfeitavam a casaca. A princesa Carlota Joaquina também nunca foi elogiada pela elegância, muito menos pela beleza. Apesar de pouco atraente, foi eternizada de maneira favorável em vários quadros, trajando vestidos tipo império, plumas, manto real e joias discretas. Os pés aparecem sob as saias, em sapatos forrados de seda, demonstrando que o tabu de mostrá-los em público acabara.

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Com a corte no Rio de Janeiro, mesmo empobrecida e atrasada, as damas e os cavalheiros da aristocracia local passaram a ter mais oportunidades de tirar as joias e os tecidos finos dos baús. A vida social ganhou novo fôlego. Além das missas de domingo, as senhoras cariocas podiam frequentar reuniões da corte, bailes e espetáculos, como teatro e ópera, que passaram a ser bem mais numerosos. Havia ainda as cerimônias próprias da realeza, como o “beija-mão”, em que D. João VI recebia centenas de súditos, nobres ou não, que se enfileiravam, esperando a vez para cumprimentá-lo. O ritual, já ultrapassado no restante da Europa, era realizado anteriormente pelos vice-reis do Brasil e perdurou até a época de D. Pedro II.

      Os relatos dos viajantes estrangeiros são outra fonte preciosa de informações sobre os hábitos da população. Esses textos seguem certo padrão em voga na Europa: em geral, eram elogiosos sobre as belezas naturais e criticavam duramente a sociedade local. Em termos de vestuário e moda, há várias descrições sobre as preferências dos brasileiros – muitas delas negativas.

     Exemplo são as opiniões de Rose Freycinet, uma francesa que esteve no Rio de Janeiro em 1817, acompanhando o marido. A atenta senhora comentou a deselegância da família real, que teve oportunidade de encontrar em uma ópera. D. Pedro I (que na época ainda não tinha o título) era um homem “bonito e alto”, segundo seu relato, mas de uma vulgaridade total: “Vestia-se com um fraque marrom, calças de nanquim, traje bastante ridículo para as 8 horas da noite, numa grande festa pública”. D. João VI não tinha nenhuma “majestade” e portava maior simplicidade, porém menor inadequação, de acordo com a autora.

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Quem também não escapou do rigor da visitante  foi a princesa Leopoldina.

A pobre austríaca estava vestida com uma roupa de montaria cinza, de um tecido ordinário, e com blusa plissada; seus cabelos estavam em desalinho e presos com pente de tartaruga.

     Em contraste, as outras princesas estavam de veludo ou cetim e traziam enfeites de plumas e flores nas cabeças. A francesa se espantou com o fato de Leopoldina estar tão mal-arrumada, já que suas maneiras “em nada lembram a postura nobre e cerimoniosa que se cultiva na corte da Áustria”. Seriam as tristezas do casamento infeliz ou os efeitos da melancolia?

  • Texto de Márcia Pinna Raspanti. 

D. Pedro e Leopoldina; D. João e Carlota Joaquina.

9 Comentários

  1. Ivete costacurta
  2. Francisca Isabel Dias Carvalhos
    • Márcia
  3. Katia Kozlowski
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    • Márcia
      • Gabrielle Arruda
        • Márcia
  5. JAIRO BRAZ DE SOUZA

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