Usos e costumes da rua Estreita e Larga de São Joaquim

Por Aloysio Clemente Breves Beiler.

Voltar no tempo pode ser um grande aprendizado. Em 1886 a comunicação no Rio de Janeiro se fazia através dos jornais, revistas e do Almanak Laemmert. O Almanaque servia para divulgar os serviços, modos e costumes daquele tempo.

Na Rua Larga de São Joaquim, a fábrica de farinha de trigo Gianelli, alardeava no Almanaque que vendia por um preço mais barato a melhor farinha feita pelo processo austro-húngaro. Em contrapartida, o Hotel Riachuelo, na rua do mesmo nome, propagava estar situado num dos sítios mais salubres da cidade, com aposentos magníficos e fornecimento de “comedoria para fóra”.

Com a morte do marido, a viúva Machado, assumiu a direção da casa comercial “Ao Funil Monstro”, situada na Rua da Prainha, 94, com grande sortimento de baús, latas, banheiros, e trens de cozinha, com entregas no interior do Estado.

O comércio mais fino ficava nas proximidades da Rua do Ouvidor.  O comerciante Bernardo Ribeiro prometia trazer de Londres e Paris inúmeros artefatos: madrepérola, louças, cristais, bronzes, objetos de toucador. Ali mesmo, na elegante Ouvidor, a modista e costureira de Sua Alteza Imperial, a condessa D’Eu, Madame Borges, oferecia seus préstimos na Casa Wellemkamp.

Para a saúde estávamos num tempo de elixires, bálsamos e sabão sueco. O Almanak publicava em “Notabilidades Commerciaes” um anúncio de página inteira sobre as virtudes do Elixir Estomachico de Camomilla aprovado pelo Governo Imperial, que segundo a firma Rebello & Granjo era ótimo para indigestões, fraqueza de estômago, flatulências e cólicas. Junto com o anúncio, atestavam o esplêndido resultado, os ilustres barões de Paranapiacaba, de Ipanema e de São Domingos.

Ver mais  A primeira parteira "diplomada" do Brasil

Ainda sob o aspecto “saudável” encontramos o Leite Excepcional. Excelente para doentes, crianças em amamentação e recomendado por médicos e parteiras. O tratamento especial dado às vacas e a fiscalização da proprietária do estábulo no momento da tiragem, garantiam a lisura do engarrafamento. Bons tempos!

O prefeito Pereira Passos, nascido em São João Marcos, RJ, foi o responsável pelo alargamento da Rua Estreita, finalizando então o projeto de 1840 do pintor e homem de letras, o barão Barão Félix Taunay. O escritor Vieira Fazenda em janeiro de 1905 numa crônica memorável descreve o episódio:

                “E tudo foi feito; as baiucas da Rua Estreita, as casas de tavolagens e de quitandeiras, as lôbregas lojas de violeiros vão dar lugar a belos edifícios, que causarão inveja aos da Rua Acre e da Avenida Treze de Maio”.

Mais adiante, o cronista lembra com saudades do ponto que os alunos faziam antes das aulas, à frente da casa da quitandeira Josepha, que vendia pamonha, pés de moleque, pipocas, amendoins e bananas, por dois ou quatro vinténs.

Hoje, a Marechal Floriano, ex-Rua Larga e antiga Estreita e Larga de São Joaquim abriga o prédio do Itamaraty, o da Light e o Colégio Pedro II, além de obras e um trânsito infernal. Pereira Passos viu sua cidade natal ser demolida e alagada, e o barão Félix morreu enaltecendo o Brasil: “Adieu, belle nature du Brésil!

Aloysio Clemente Breves Beiler

Ver mais  Novos papéis femininos....

Baú da Rua Larga

Folha da Rua Larga – Instituto Cultural Cidade Viva

ouvidor1890

 

O comércio mais sofisticado ficava na rua do Ouvidor e imediações (foto de 1890).

Deixe uma resposta