“Sou mulher e odeio o feminismo. Será que tem cura?”

Ontem, encontrei uma antiga colega de escola, com quem tenho mantido algum contato pelo Facebook. Conversa vai, conversa vem, e ela me disse ser leitora desse blog. Então, me fez a seguinte pergunta: “Você fala tanto de violência contra a mulher. E a violência contra o homem? Você não se importa??”. Bom, logo percebi para onde iria parar a conversa. Respondi que existem vários tipos de violência e que todas devem ser combatidas, mas que falar de forma generalizada é bem menos eficiente do que focar em determinadas frentes. E que é inegável que existe uma violência de gênero, ou seja, que mulheres são agredidas por serem mulheres. Lembremos que essa semana houve um caso horrível de uma moça mutilada pelo “companheiro”. A resposta foi uma risadinha irônica e a frase lacônica: “Vocês feministas…”.

O fato me fez pensar nas inúmeras mulheres que se orgulham de renegar o feminismo. Muitas engrossam o coro masculino de que as feministas são “mal amadas, chatas e mimadas, afinal querem privilégios”. Invariavelmente, essas anti-feministas recebem o apoio masculino. “Essa é mulher de verdade, sem frescuras. E gosta de homens de verdade”. Esse tipo de postura talvez esteja ligada ao fato de que muitas brasileiras não conseguem se enxergar “fora da órbita do homem.O que ela quer é continuar sendo uma presa desejada”, como avalia Mary del Priore. Pode ser que isso seja parte da busca feminina por aprovação, não sei.

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Ou talvez elas não queiram se associar à imagem negativa que os movimentos feministas têm até os dias de hoje. Na virada do século XIX e nas primeiras décadas do século passado, as feministas sofriam um preconceito terrível. Na Inglaterra e nos Estados Unidos, as sufragistas foram violentamente reprimidas. E no Brasil, não foi diferente: “Nas primeiras décadas da República, o celibato associava-se ao feminismo. E este, à feiura e masculinização. No entender da imprensa da época, quem não era agraciada com beleza física suficiente para se casar vingava-se aderindo aos movimentos de emancipação”, conta Mary del Priore.

O movimento feminista hoje está bastante fragmentado. Há setores identificados com questões específicas, como racismo, transexualidade, trabalho doméstico, assédio, etc. Existem também aquelas que pregam o fim dos gêneros, pois, a feminilidade seria algo construído e prejudicial à mulher. Enfim, são diversas correntes e ninguém precisa estar de acordo com todas elas. O feminismo nos permite que encontremos nossos próprios caminhos. Podemos discordar ou concordar com as teorias existentes. Mas generalizar e atacar todas feministas, como se todas pensassem da mesma forma, não me parece muito inteligente.

Costumo perguntar para as anti-feministas: você concorda que as mulheres devem ganhar menos que os homens, apenas pelo seu gênero (independente dos méritos profissionais)? Você acha que as mulheres devem ser vistas somente como objeto sexual? Você acredita que a mulher é fraca e insegura por natureza? Você acha que lugar de mulher é dentro de casa? Se a pessoa responder “não” a essas perguntas, ela é feminista, mesmo sem querer ou saber. Então, é bom parar de menosprezar as suas próprias ideias por puro preconceito ou necessidade de aprovação.E é importante lembrar que ser feminista não significa ser ativista.

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Agora, caso a resposta seja “sim”, infelizmente, serei obrigada a dizer que a pessoa tem sérios problemas. Desqualificar a si mesma por ter nascido mulher me parece absurdo e doentio. Até hoje, não conheci pessoalmente nenhuma mulher que pense dessa forma, mas pode ser que elas existam. A dúvida é: será que tem cura?

– Texto de Márcia Pinna Raspanti.

mulher-chorando-1944

“Mulher chorando”, de Cândido Portinari.

 

45 Comentários

  1. Chelle
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