SER PROFESSOR NO SÉCULO XXI: DESAFIOS E ALEGRIAS

Por Natania Nogueira.

Há um século, ser professor era uma ocupação honrosa. Para a mulher, apesar do baixo salário, a ocupação abria espaço para a inserção social. Em famílias de classe média, formar uma filha professora era garantir que, caso ela não conseguisse um bom casamento, teria condições de se sustentar e seria aceita e respeitada pela sociedade. No decorrer do século XX, o magistério tornou-se uma profissão tipicamente feminina. O salário continuava baixo, mas ainda havia reconhecimento social.

No século XXI, ser professor é um desafio, pois além de todos os problemas que a categoria enfrenta, perdeu-se uma considerável parte do reconhecimento social. Não raro uma pessoa, um(a) jovem, é duramente criticado(a) pela família por revelar o desejo de seguir o magistério.

Sei, por experiência, que a carreira do magistério é muito difícil. O professor passa por momentos de desânimo, o nosso salário não é lá grandes coisas se comparado ao de outros profissionais, outras ocupações, mas tem suas compensações. Eu tive uma professora que dizia ser o magistério uma vocação, uma entrega. Que o professor, para realmente educar, teria que se envolver com os alunos e com a escola.

A gente sabe que, nos dias de hoje, esse envolvimento tem sido cada vez menor. Muitos jovens professores estão assumindo a carreira não por vocação, mas por falta de opção. Professores mais antigos, desgastados e desanimados, falam em abandonar o magistério e acabam até adoecendo porque não se sentem motivados. E isso realmente é muito ruim! Sem motivação, entrar numa sala de aula é um suplício.

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Há cerca de uma semana saí de uma escola arrasada, de uma forma que eu não me recordo ter me sentido antes. Fui almoçar e nem senti o gosto da comida. Troquei de roupa e fui para outra escola. Aquele era o pior dia da minha vida. Eu me sentia a pior pessoa do mundo, a pior professora do mundo! Cheguei para dar aula tomada por uma enorme dor de cabeça. Eu, literalmente, não via nada na minha frente e estava funcionando no automático.

Na segunda turma em que entrei, tive uma surpresa. Os alunos me esperavam sentados, sorrindo e com uma expressão marota. Na minha mesa estava uma caixa de presente e uma cartinha. Na caixa estava escrito: “A MELHOR PROFESSORA DO MUNDO”. Eu fiquei sem saber o que fazer. Sentei e li a cartinha, as lágrimas rolaram. Tive que pedir licença e sair da sala de aula. Aquele deixou de ser o pior dia da minha vida e se tornou o melhor.

Pois é, nós temos nossos dias ruins, mas não são todos. Se algo ruim acontece é preciso parar e refletir sobre o nosso papel na escola e sobre a nossa prática profissional. Onde estamos errando e onde estamos acertando? É preciso saber separar o que é nossa responsabilidade e o que nos foge ao controle.

Da mesma forma que naquele dia eu estava me sentindo muito mal, sem motivação para entrar na sala de aula, algumas horas depois eu me senti tão acolhida que não queria estar fora dela. O magistério é assim, uns dias são bons, outros nem tanto.

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Mas não é assim que é a vida?

Para o (a) jovem professor (a), que está começando sua carreira agora, sugiro dar o melhor de si. Não tenha medo de errar; todos nós erramos. Não deixe que as pessoas destruam o seu ânimo. Se você escolheu o magistério é porque tem consciência de que pode fazer diferença. E pode mesmo!

Aos professores que estão encerrando a carreira, agradeço pela contribuição que deram para a formação dos jovens profissionais que hoje atuam nesse país. Vocês, com certeza, serão lembrados. Eu me lembro até hoje dos professores que marcaram a minha vida escolar e não é apenas no dia do professor, mas sempre que me deparo com um desafio e me recordo deles: professores inspiradores, cujo trabalho me fez optar pelo magistério.

4 Comentários

  1. Natania
  2. José Ventura
  3. João Paulo Crneiro

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