O horizonte parece sombrio. O ensino da história foi excluída do rol de disciplinas obrigatórias no Ensino Médio, pela Medida Provisória 746/16. Isso significa menos emprego para muitos de nós, que estão se formando. A esse apagamento da disciplina, soma-se, também, a menor – cada vez menor – visibilidade das Ciências Humanas. Afinal, para que serviram, se os grandes debates que atravessaram o século XX não explicaram genocídios e guerras, não impediram a desigualdade, nem a fome ou, nos regimes democráticos, não promoveram a cidadania plena: aquela que agencia educação, saúde e emprego? Sem função aparente, num mundo funcional, elas parecem não ser necessárias.
Mudanças de conteúdos para o ensino médio têm sido feitas em toda a parte. Nos países que tiveram colônias e que hoje recebem imigrantes, o esforço de explicar os processos de colonização tem por objetivo integrar as populações estrangeiras. Tal agenda fez “cair fora” centenas de especialistas em áreas específicas. A Antiguidade greco-romana, para ficar num exemplo. Até os estudos sobre “alteridade”, que tiveram no recém-falecido Todorov seu ícone, não diminuem a xenofobia e o racismo na “civilizada” União Européia. Termos como “nação” e “fronteiras”, que justificaram barbáries, voltaram ao vocabulário dos políticos. E o que dizer do impacto das comunicações, da tecnologia e da mundialização no contexto da Educação? Tudo isso joga a História num balaio de interrogações, quando o que buscamos, num horizonte instável, são respostas.
A nossa disciplina, como tudo, aliás, se transforma. Ela é dinâmica. E penso, que essa talvez seja a hora de meditarmos um pouco sobre a relação entre o “fazer história” ou lecionar história, com o mundo em que vivemos: o “mundo liquido”, como quer Zygmunt Bauman. Ou a “era das incertezas” na expressão de Edgard Morin. Não é fácil. E, a essa altura, a diminuição do espaço dos historiadores no Ensino Médio parece assustador. Como reagir? O historiador francês, Pierre Nora, já nos definiu como sendo os “profissionais do entusiasmo”. Vamos colocar, então, nosso entusiasmo a favor das mudanças.
Ora, sabemos que nosso ofício evoluiu, baseado numa lógica de profissionalização cujo objetivo é contribuir ao sucesso educativo do maior número possível de pessoas, usando, para isso, competências e saberes específicos. Num país grande e desigual, essa evolução não foi a mesma em toda a parte. Mas, correspondeu, sim, a realidades complexas num sistema de ensino que até hoje não se consolidou. E que, inacabado, está “em crise” há tempos. Quem não houve falar em “crise na Educação”?
Vivemos, simultaneamente, várias crises endógenas. Uma nasce do desequilíbrio provocado pelas dúvidas que emergiram na historiografia, com o fim das certezas do marxismo, as mudanças e questionamentos sobre as narrativas históricas, o papel da memória, a rapidez com que conceitos são criados e abandonados, o relativismo nas interpretações. Outra se alimenta das dúvidas que a modernidade introduziu por meio de “tecnologias”: arquivos digitalizados, pesquisa através da internet em lugar dos velhos e poeirentos arquivos, infinitas possibilidades de fontes, sobretudo no campo das comunicações: fotografia, cinema, música, ao alcance cada vez mais rápido do pesquisador, submergindo-o. E outra ainda, é proveniente das contradições sociais: alunos desigualmente interessados ou preparados, dependendo do nível de educação que receberam com suas dúvidas, dificuldades e muitas vezes, desinteresse, produto da massificação do ensino. Ora, precisamos dar conta de tantas tensões, não com o objetivo de restaurar uma ordem antiga, idealizada. Mas, tendo em vista uma adaptação às novas realidades, graças à inovação, a renovação e tudo mais que encarne o progresso.
Sem nenhum cenário pré-definido, acredito que talvez seja esse o momento para pensarmos como sair de rotinas petrificadas, para trilhar um cenário híbrido e rico de contradições que nos obrigará, também, a reconstruir nossa identidade de professores de História do Brasil. Se há uma demanda forte por melhor escolarização em nosso país, vamos colaborar oferecendo um nível de estudos cada vez melhor. Se há aceleração e transformação tanto da sociedade quanto da cultura, façamos o ensino e a produção de História, acompanhá-las. Uma vez que a mudança está aí, nada de nostalgia do passado idealizado, quando a escola distribuía saberes codificados. Aproveitemos para criar mecanismos que combatam a desigualdade, oferecendo aos nossos alunos uma ponte com as novas tecnologias e essa palavra detestada: o mercado. Sim, estou falando em mercado de trabalho, pois é para lá que eles irão. Como fazer isso? Não tenho receita certa, mas algumas intuições. Teremos que passar por um processo de aprendizado coletivo, sem respostas ou garantias definitivas. Teremos que assumir a incerteza e a ambiguidade diante de um cenário que desconhecemos. Teremos um destino, mas, caminharemos sem mapa ou bússola.
Todos, porém, que já estivemos ou estamos em sala de aula, acumulamos alguma experiência e aprendemos a desconfiar das derivas autoritárias. Temos um objetivo, e, é em sua direção que iremos caminhar: desenvolver pessoas autônomas e livres. E temos matéria para fazê-lo, respondendo de maneira inventiva às mudanças impostas. Tudo, sem esquecer o otimismo e o bom-humor, inoxidáveis frente às incertezas, ao rancor ou ao pessimismo irracional que tais mudanças costumam criar. Sejamos, sim, em tempos sombrios, os “profissionais do entusiasmo”.
- Texto de Mary del Priore.
“Caminhante sobre o mar de névoa”, de Caspar David Friedrich.
País sem fe sem rei sem lei… Nostalgia parece que estamos vivendo aquele tempo que estudamos…
Que absurdo um país sem história e a mesma coisa coisa que ser orfao em sua terra.
Meu sonho é ser Professor de História, estou no segundo ano de Licenciatura, em partes penso seriamente em desistir de tudo, mesmo sabendo que finalizo o curso em 2022.
Me pergunto , o porque dessa mudança, sabendo que a História é tão necessária quanto as outras disciplinas.
Me perdoem pelo que vou dizer !
Seria melhor acabar com as escolas, deixar os alunos aprenderem com os pais em casa e fida-se o resto… Um absurdo, um país sem História como se faz ? História é parte de tudo !
Sinceramente a vontade largar o curso é gigantesca , apesar de já estar no segundo ano e por sinal pagando a Faculdade, pois não consegui nada de programas governamentais para me ajudar.
Triste por esse Brasil que se afunda cada vez mais .
Do ponto de vista político, por exemplo, os alunos deveriam conhecer:
as características do atual sistema político: como funciona o regime presidencialista? Como funciona o processo eleitoral? Como evoluiu esse regime político da Colônia aos nossos dias? Que correntes político-ideológicas estão representadas nas Câmaras Municipais, Assembléias e Congresso Nacional?
Na abordagem desse tema, haveria a oportunidade de estabelecer as relações entre o presente e o passado: a estrutura política atual e a da Colônia, Império e República Velha, na medida em que elas deixaram marcas profundas na vida política brasileira, de hoje.
Ao analisar o presidencialismo e seu funcionamento, o professor retornaria à administração colonial, ao regime monárquico, ao nascimento da República, buscando seus pontos de conexão: a comparação entre o regime imperial e o presidencialismo republicano. Desde seus primórdios, mostraria inúmeros pontos de contato e permanências do regime imperial no regime político atual, entre os quais, o excessivo poder do Presidente da República, ao longo da vida republicana,velha herança do Poder Moderador Imperial. Tudo isso trabalhado por meio de conteúdos significativos.
O mesmo procedimento poderia ser usado no estudo do coronelismo, ou seja, o domínio de grupos oligárquicos, ainda existentes, em regiões do norte e nordeste, originários dos períodos Colonial, Imperial e da República Velha, quando o “mandonismo local” era a base do sistema eleitoral nas Câmaras Municipais ( instituição transplantada de Portugal à Colônia) Parlamentos Provinciais e Imperial. O estudo, ensejaria, a análise do processo eleitoral (desde o voto censitário imperial ao sufrágio universal masculino no início da República) nos diversos períodos da História Brasileira e a comparação entre as eleições de hoje às do Império (1822-1889) e República Velha (1889-1930). Por outro lado, esse estudo suscitaria ampla discussão sobre o regime cartorial-burocrático até hoje vigente no país, permeando práticas políticas e econômicas e que, em parte, explicariam a corrupção nos parlamentos, executivos e judiciários do país, cujos escândalos são matéria prima cotidiana nos órgãos de imprensa escrita e televisada em todo o país.
Outros aspectos da vida política brasileira poderiam ter o mesmo tratamento, vinculando, sempre, o presente ao passado.
Do ponto de vista social (sem preconceitos ou dogmatismos), faz-se necessário o estudo das desigualdades: distribuição de renda, da propriedade da terra- seus avanços e retrocessos (a questão do latifúndio e as novas formas de exploração agrícola), buscando as relações entre os problemas do presente com os fatos que deram origem a eles, nos diversos períodos históricos.
Se a miséria, englobando grandes bolsões da sociedade brasileira, constitui, ainda, um grave problema social brasileiro, inegavelmente, o país evoluiu socialmente nos últimos 30 anos, sob todos os aspectos. Pesquisa sobre a evolução econômica brasileira, durante o século XX, demonstrariam os avanços sociais dela decorrente, obtidos nas últimas décadas.
Entrevistas com favelados, com membros do MST, com moradores de rua, pequenos e grandes empresários, membros da classe média, levariam os jovens a compreender melhor a realidade social exclusiva dos bolsões de miséria das várias regiões brasileiras.
Mais uma vez, o retorno ao passado seria capaz de levar os alunos a desvelar as origens das desigualdades sociais, ao longo de nossa história. Para isso, a análise da sociedade Colonial e da Imperial, fundada na mão-de-obra escrava, no latifúndio e no poder dos senhores rurais, durante os vários ciclos econômicos brasileiros, mostra-se primordial.
O sistema de latifúndios, a partir do qual os colonizadores e, depois, os grandes senhores do Império e República Velha, apropriaram-se da terra, criando imensas propriedades, poderá levar os alunos a entender a luta pela reforma agrária nos dias que correm e, ao mesmo tempo, constatar o que foi feito ao longo da última década em relação à propriedade da terra. Uma pesquisa sobre as novas formas de exploração agrícola, sobre os assentamentos de membros do MST, já realizados, seus progressos e retrocessos, os vários pontos de vista sobre a reforma agrária em andamento, também, contribuiriam para esclarecimento do processo de ocupação da terra no Brasil..
Por outro lado, a análise da assimétrica industrialização brasileira, ajudaria o alunado a compreender o grande desenvolvimento industrial do Sudeste, o crescimento de suas elites urbanas e das classes médias (insignificante, até meados do século XX), e o atraso do Norte e Nordeste , dominados ainda pelo latifúndio, pela miséria e exclusão social de grande parte de suas populações.
A evolução dessas distorções sociais, ao longo da história brasileira, e a organização social brasileira, atual, enriquecerão os conhecimentos dos estudantes e poderão levá-los a elaborar hipóteses para a superação dos problemas.
do estudo comparativo entre a nossa sociedade e as sociedades avançadas, que conquistaram um Estado de bem-estar social, a partir da instituição de sistemas democráticos e reformas sociais profundas no campo e na cidade (Estados Unidos, Suécia, Noruega, Dinamarca, França, Inglaterra, Bélgica, Austrália, Canadá, Japão e mais recentemente os Tigres Asiáticos, entre outros).
Será extremamente motivador, no estudo de problemas ligados à miséria e à exclusão social brasileiras, levar os alunos a pesquisar sociedades afluentes do mundo contemporâneo para descobrir a maneira pela qual essas nações, conseguiram superar sérias distorções sociais comuns em países latino-americanos, africanos e asiáticos.
Essa análise, contribuiria para a discussão de uma série de meias verdades, entre as quais, a celebre “teoria da dependência” através da qual algumas correntes tentam demonstrar que dificuldades sócio-econonômicas, latino-americanas, em geral, e do Brasil, em particular, sempre estiveram condicionadas à expansão econômica de países desenvolvidos, esquecendo-se de que muitos dos problemas latino-americanos decorreram da falta de democracia, de políticas equivocadas das elites dominantes, nos diversos períodos históricos nos países do Continente, e da extrema burocracia e regulamentações econômicas, travando o desenvolvimento dessas nações, ao longo da História, fossem quais fossem suas colorações ideológicas. A análise das conquistas econômico-sociais das grandes nações do globo ajudaria, sobremaneira, na compreensão das dificuldades latino- americanas.
De fundamental importância será o estudo da escravidão, responsável pelo atraso econômico-social do país, deixando marcas indeléveis na sociedade brasileira – racismo e preconceito, que determinam dificuldades de ascensão social do negro decorrentes de discriminação no mercado de trabalho, exclusão social, marginalização, etc. A pesquisa das organizações negras e de suas lutas, para alcançarem plena igualdade de direitos, hoje, mostra-se relevante.
A pesquisa sobre a escravidão e a discussão em classe, sobre a questão do preconceito racial existente no Brasil, seria o ponto de partida para o estudo da escravidão (indígena e negra), durante os diversos períodos da História Brasileira, culminando com a abolição dos escravos, realizada sem a preocupação de integrar o negro à sociedade, mantendo-o tão excluído, socialmente, quanto o foram enquanto escravos, fato que se agravaria com a permanência de uma mentalidade preconceituosa, entre vastas parcelas da população branca, que, ainda se manifesta em numerosas camadas, nos dias que correm.
A luta das entidades ligadas aos movimentos negros e suas conquistas poderão levar o aluno ao conceito de cidadania e ganhar um batalhador a mais na busca da igualdade de direitos entre os vários segmentos desfavorecidos da sociedade brasileira.
O estudo das lutas pelos direitos da mulher, ao longo de nossa história, e as conquistas obtidas.
A pesquisa da condição da mulher, na atualidade, incorporando-se em todos os setores da vida brasileira, deve ser acompanhada do estudo de sua situação social nos vários períodos históricos brasileiros para que o aluno seja levado a avaliar o quanto elas tiveram de lutar para superar discriminações sociais de todo tipo, ao longo de nossa história. O professor de literatura poderá sugerir um estudo sobre mulheres, entre as quais as personagens do livro “A Moreninha”, além de Moema, Iracema, Capitu, Marília de Dirceu, Luzia Homem, etc.. Uma investigação sobre pioneiras: Maria Quitéria, Ana Nery, Chiquinha Gonzaga, entre outras personagens femininas de destaque em nossa História, contribuirá para o enriquecimento discente, que, com certeza, ignora a luta feminina para se afirmar como membro atuante de nossa sociedade.
Do ponto de vista econômico é de fundamental importância:
O estudo, não-sectário, do neoliberalismo, globalização, relações econômica e interdependência entre o Brasil e demais países do globo; o estudo da evolução econômica do Brasil, enfatizando sua marginalização, à época da segunda revolução industrial do início do século XIX, provocando o atraso industrial brasileiro, a duras penas superado nas quatro últimas décadas.
O neoliberalismo é um tema que, hoje, perpassa matérias jornalísticas, jornais televisivos, obras acadêmicas e quejandos. Quando estudado no ensino fundamental e no ensino médio, é oferecida aos alunos a oportunidade de discutir suas várias facetas, através de variados instrumentos de análise?
Aqui, mais uma vez a volta ao passado, ou seja, o estudo do liberalismo seria dos mais elucidativos.
Uma segunda questão, no estudo do liberalismo, seria a maneira como e quando foi inserido na vida brasileira, após a Revolução Francesa e Revolução Industrial. Esse fato ensejaria o estudo das lutas pela Independência política, com realce para a Inconfidência Mineira de l789, com sua conotação nitidamente política e a Baiana de 1798, com sua conotação social, nos fins do período colonial e a Independência no 7 de setembro de 1822.
O estudo do neoliberalismo remeteria o professor à questão da globalização, tema recorrente nos dias que correm e seu caráter quase irreversível, num mundo dominado pela informação instantânea e elevada tecnologia. Mais uma vez, mostra-se fundamental levar o aluno a compreender seus aspectos positivos e negativos, evitando o mestre, fórmulas prontas e dogmáticas a respeito desse processo. A comparação entre a posição dos operários frente às máquinas, durante a Segunda Revolução Industrial e os movimentos antiglobalização, nos dias que correm, forneceria rico material para a reflexão do aluno sobre o tema.
A pesquisa e discussão sobre a indústria brasileira na atualidade, possibilitaria, mais uma vez, a volta ao passado, mormente as dificuldades de inserção do Brasil na “era da máquina”, nos fins do século XIX.. A leitura por parte dos professores do livro “Mauá Empresário do Império” de Jorge Caldeira ( Companhia das Letras, 1995) explica, com muita clareza, a luta de Mauá pela industrialização do Brasil no século XIX e os óbices impostos pela elite rural brasileira.
A questão metodológica no tratamento dos temas
É óbvio que não se pode desenvolver a mesma História do Brasil nos diversos Ciclos do Ensino Básico. Tem-se de levar em consideração a faixa etária a que ela se destina.
Assim, tudo que foi exposto, anteriormente, pode e deve ser desenvolvido com os alunos do Ciclo II do Ensino Fundamental e Ensino Médio, resguardando-se, evidentemente, suas pertinentes graduações. Não é o caso das primeiras etapas do Ciclo I.
Com as crianças do Ciclo I, deve-se levar em consideração os aspectos lúdicos, pitorescos e, até mesmo, os fantásticos, que povoam suas mentes. Não se pode imaginar “sociologizantes” interpretações históricas para essa faixa etária. É possível fazê-las entrar em contato com aspectos sociais, econômicos, políticos e culturais atuais, por meio de entrevistas com populações pobres, empresários, negros entre outros segmentos sociais, em um primeiro contato com a realidade que os cerca.
Porém, para introduzi-las no passado, será fundamental levá-las a conhecer aspectos da vida cotidiana dos brasileiros nos diversos séculos de nossa civilização: o que pensavam acerca de numerosas questões do dia-a-dia? Como produziam aquilo que lhes permitia a sobrevivência em meio inóspito como no Brasil dos primeiros séculos? Como os diversos segmentos sociais relacionavam-se entre si e com os habitantes da terra, os indígenas? Como deram-se as relações entre os brancos das diversas classes sociais com indígenas e negros escravos? De que maneira, índios e negros marcaram a civilização brasileira?
Tudo isso permitirá uma visão concreta de nossos primeiros habitantes.
Dir-se-ia, portanto, que, para essa faixa etária, seria fundamental a visão de quadros ou cenas específicas da vida política, social, econômica e cultural da Colônia, Império e República. Para isso, textos de autores da época, pesquisa iconográfica em revistas e jornais não são difíceis de obter. Por outro lado, a leitura de obras históricas infanto-juvenil e para-didáticas de História do Brasil, produzirão, além de novos leitores, no contexto literário, uma curiosidade por fatos históricos, que se aprofundarão nos Ciclos II e Ensino Médio
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Como se vê, não se trata de se ensinar uma História, apenas, com base em datas, fatos e heróis brasileiros, comum, entre os professores do Ciclo I, mas dotar a criança de uma visão, mais próxima possível do país, por meio das formas de vida e pensamento dos brasileiros nas diversas épocas. Visão histórica amparada pela constante mediação do tempo e espaço históricos.
Assim, professor algum do Ciclo I deveria trabalhar História do Brasil, sem as suas respectivas Linhas do Tempo e mapas históricos, a fim de que possa levar os alunos a localizar fatos e datas fundamentais da História brasileira e o espaço em que eles se deram, conteúdos esses, que os estarão preparando para etapas mais complexas de estudo.
Anda muito em voga a idéia de que os conhecimentos dos alunos devem ser por eles construídos. Qualquer conhecimento é construído pelo aluno, posto que, seja qual for a metodologia empregada pelo professor, o aprendizado é sempre uma construção de quem é levado a fazê-lo. Não fosse assim, os alunos deixariam a escola nas mesmas condições em que entraram, o que é absolutamente falso.. O que ocorre é uma construção de conhecimentos por parte dos alunos, de maior ou menor qualidade, dependendo de quem ministra o ensino.
No caso específico do ensino de História do Brasil, como em outras disciplinas, vários elementos entram nessa construção do conhecimento histórico. Ainda que se deva partir da realidade que cerca o aluno, através de uma série de contatos deles com essa mesma realidade, o estudo dos “fatos significativos” de nossa história, é fundamental, posto que, cérebro algum reflete no vazio. Ninguém pode ser levado a conhecer o passado, sem o estudo de fatos históricos específicos. Contudo, esses fatos só se integrarão à consciência dos alunos, ou seja, serão apreendidos, na medida em que se liguem ao já conhecido pelo discente. Daí a importância das aulas dialogadas, nas quais o novo conhecimento venha unir-se aos rudimentares, presentes na memória dos alunos. Daí a importância da leitura de obras históricas, didáticas, para-didáticas, de divulgação, acadêmicas e quejandos, em diferentes ciclos de estudo, na perspectiva de se formar o conhecimento histórico necessário à reflexão dos alunos. Não se trata, pois, de encher a cabeça de crianças e jovens de conteúdos aleatórios, ou seja, de personagens e datas (ainda que eles sejam imprescindíveis em determinados contextos) mas de vinculá-los a temas significativos para a compreensão do processo histórico..
Observam-se, hoje, que, fatos comezinhos da História brasileira são, absolutamente, desconhecidos da maioria de nossos jovens, que não têm qualquer noção do que seja Colônia, Império e República e, muito menos, o Brasil Contemporâneo e a localização de fatos importantes no espaço e no tempo. Que dizer, então, dos homens que viveram nesses períodos. Portanto, o professor deve estar atento a sua programação, selecionando, dos períodos históricos, aquilo que é mais significativo para a compreensão do processo histórico. Daí, repetirmos, a importância de se estudar o passado a partir do presente, buscando as suas conexões.
A pergunta central, neste momento, é: “que história ensinar?” Sua resposta levará a refletir sobre conteúdo, abordagem, recortes e objetivo. Parece-me que aquele ensino conteudista em que a História ensinada transitava do Paleolítico até a contemporaneidade, passando por todos os continentes e ainda dando conta das novas temáticas (cotidiano, mulheres, camadas populares etc) acabou. Livros didáticos de História com 400 ou 600 páginas para o Ensino Médio pertencem agora aos museus e serão exibidos aos jovens do futuro com o comentário “Veja o que seus avós tinham que estudar de História!” … e também de Biologia, Física, Química, Geografia…
Olá Márcia, compartilho muito de sua opinião quando diz da formação cultural do jovem, pois o discurso recente que vi de ministros e senadores é a educação básica como preparação para o mercado de trabalho, o que é extremamente importante mas poucas vezes ouço que a educação é também a preparação para cidadania, para a tolerância com a diversidade, para a transformação da sociedade e não somente pra formar trabalhadores.
Vivemos um governo ditatorial com casca de democrático, o próprio site do senado fez uma consulta pública sobre a reforma do Ensino Médio no qual 4.551 concordam com a reforma e 73.565 não concordaram https://www12.senado.leg.br/ecidadania/visualizacaomateria?id=126992 entre outros movimentos de educadores pelo país mas essa opinião popular não é levada em conta como vimos.Eu acredito que o Ensino Médio deva passar por uma reforma mas não dessa maneira, decisão sem diálogo é decisão ditatorial.
Me parece que desigualdade na educação tende a aumentar com essa reforma, mas iremos aguardar cenas do próximo capítulo porque muita coisa ainda não esta explicada, como por exemplo os profissionais de ”notório saber” que poderão dar aula.
Na verdade Márcia, as disciplinas que vc citou não foram mencionadas como obrigatórias na Reforma do Ensino Médio… Ou seja, estão no mesm barco que as Humanas, mas algo está muito difícil de compreender essas mudanças todas pois há a menção que a BNCC irá definir o que será ensinado no novo formato de ensino médio “integral” – se é que esse modelo será de fato contemplado, acho difícil – e sobre os 60% que as disciplinadas CONTEMPLADAS PELA BNCC serão ensinadas, mas não se sabe ao certo que revisões foram realizadas na BNCC e qual será a sua versão final.
Sim, você tem razão, a BNCC ainda irá definir com mais clareza o currículo. Realmente, ainda está confuso. Mas, pelo que entendi, Matemática e Biologia (Ciências) continuam como obrigatórias. Acredito que não haverá mudanças quanto a Física e Química, mas posso estar errada. De qualquer forma, o que procurei enfatizar é que o Ensino Médio não deve ser pensado apenas para preparar o jovem para o mercado de trabalho(o que é obviamente importante), mas também se preocupar com uma formação global do estudante, com sua cultura geral, e também em oferecer, inclusive, mais subsídios para que ele escolha sua carreira com segurança. Essa é uma opinião pessoal, uma forma de entender a Educação, entretanto, há pessoas que têm visões diferentes. Por isso, acho que a principal falha do projeto foi a falta de discussão – não é com MP que se muda o ensino de um país. Vamos aguardar mais detalhes, mas é importante debater o assunto. Obrigada!
Com relação ao “Novo Ensino Médio”, eu concordo com as mudanças. O que escrevo aqui é um depoimento de quem não cursou um segundo grau, hoje ensino médio, tradicional. Fui aluno do curso Técnico em Química, na antiga Escola Técnica Federal do Ceará, hoje Instituto Federal do Ceará. Naquela época, isso já faz 38 anos, eu cursei historia no primeiro semestre e Geografia no segundo semestre do curso. Além disso, cursei um ano de Português e Literatura. Os restante do tempo do curso, que teve duração de três anos e meio, foi dedicado ao estudo de matemática, física e química. Eu estava no paraíso, o meu curso técnico foi maravilhoso, pois só estudei as três disciplinas que realmente me interessavam, pois o meu interesse sempre foi em ciência e tecnologia. Consequentemente, segui uma a carreira profissional na química, tendo feito graduação pós-graduação . Eu sou realizado profissionalmente porque a quase 40 anos vivo para estudar matemática, física e química, para com isso, desenvolver novas tecnologias. O meu sentimento é o aspecto positivo da nova proposta: os alunos farão, com esse “Novo Ensino Médio”, suas escolhas Aqueles que quiserem cursar na Universidade ciência e tecnologia e saúde, certamente escolherão as disciplinas de: matemática, química, biologia e de física, enquanto que aqueles que desejarem cursar, na universidade, cursos das áreas e humanas, certamente escolherão a disciplina de História, Geografia e outras disciplinas afins. Por fim, se para os profissionais que lecionam a disciplina de História, consideram que essa disciplina deveria ser obrigatória para todos, garanto que os profissionais da áreas de: ciência e tecnologia e saúde, gostariam de ver as disciplinas de biologia, física e química obrigatórias para todos os estudantes do ensino médio e nos três anos, como é hoje, pois um gama muito grande de licenciados são formados nas licenciaturas de Biologia, Física e Química a cada semestre nas universidade públicas e particulares.
Não entendi bem a sua crítica, pois as disciplinas citadas continuam no rol das obrigatórias. Será que se uma delas se tornasse optativa você também seria a favor da reformulação? Deixando claro, que eu acredito que essas disciplinas devem ser obrigatórias. Na época em que eu cursava o Ensino Médio, com certeza, eu gostaria de estudar apenas as matérias de Humanas – nunca gostei de Física, Química e Matemática (apesar de adorar Biologia), mas hoje vejo que foi importante ter estudado essas matérias, com as quais tive pouquíssimo contato depois. O aluno de Ensino Médio, muitas vezes, ainda não sabe que carreira seguir e, nesse período, ele pode conhecer as mais diferentes áreas. Quantos estudantes mudam de ideia nessa fase? E também acredito que História e Geografia são fundamentais para a formação do indivíduo, desenvolvendo seu senso crítico e sua capacidade de entender o mundo. Acho que deveríamos investir em uma formação sólida para os nossos estudantes, proporcionando-lhes embasamento para, não apenas ingressar na carreira que eles almejam, como também para sua cultura geral. E acredito que tais mudanças irão aumentar ainda mais o abismo entre o ensino público e o privado.
Respeitando seu ponto de vista, acho que sua análise mereceria ser amadurecida e repensada em novas bases. Há, no meu entendimento, uma visão míope de que EM você está falando. O de 34 anos atrás, ou o de agora? Quais jovens você acha que serão “beneficiados” com essa proposta? Por acaso não entendes que tudo não passa de um jogo perverso que tem como objetivo barrar o sonho de muitos jovens ao Ensino Superior? Porque tenho sempre que concordar que os jovens da escola pública precisam adentrar numa atividade laborativa de maneira precoce? Será que esse é o mesmo entendimento para os jovens que estudam na escola particular? Será que o currículo deles será modificado, assim como o currículo da escola pública? Bem, acredito que não! Portanto meu amigo, saia do saudosismo… encare a realidade, pesquise e tente, se possível, compreender os reais objetivos dessa vergonhosa proposta que colocara´no abismo do esquecimento milhões do jovens filhos da classe trabalhadora.
Quanto ao texto da professora Priore, quero parabenizá-la e dizer que, assim como milhares de professores que não aceitam, adormecidamente, o pensamento único, estou cada dia mais entusiasmado para lutar por uma educação menos dual e que seja o caminho para a emancipação dos sujeitos.
Parabéns pelo Blog. Super bem vindo!
A reflexão feita no artigo, além de oportuna é mais do que necessária. Vale a pena avançar no questionamento do que tem acontecido com a História como campo do conhecimento. Me refiro a diminuição dos cursos universitários de formação de historiadores e de professores de História. Faço a proposta para que considerem.