Quem foi Allan Kardec?

Em 1854, Hippolyte Léon Denizard Rivail, que adotaria o nome Allan
Kardec, se interessou pelo assunto das mesas volantes. Homem dedicado
aos estudos, ele viveu inicialmente para o ensino e a redação de
manuais. A seguir, para o espiritismo. Nascido a 3 de outubro de 1804
numa família de juristas, em Lyon, na França, Hippolyte se educou na
Suíça, onde se tornou colaborador do educandário no qual era aluno
interno. Falava várias línguas, lecionava diferentes matérias e era tradutor
de inglês, alemão e holandês.
Formado na escola do pedagogo Henri Pestalozzi, ele afirmava
que a educação do povo, fundada na tolerância e na fraternidade, era indispensável ao avanço da humanidade. O importante era “aprendera aprender”. Lutou contra o castigo físico, que ainda era aplicado em crianças, e convidava os alunos a desenvolver a inteligência pela reflexão e o questionamento. Visionário, apostava no trabalho feminino, não como signo de inferioridade econômica, e sim como expressão de independência pessoal.

Entre 1854 e 1857, a curiosidade de Rivail pelo fenômeno das mesas volantes aumentou – contam seus biógrafos. Vinte anos antes, ele se instalara em Paris, no número 35 da rua de Sèvres, onde fundou um curso com os métodos pedagógicos pestalozzianos. Em 1850, tornou-se contador de um teatro parisiense, onde se apresentava um dos maiores mágicos da época, um certo Lacaze. Iniciou-se então seu
interesse pelo magnetismo e pelos fenômenos sobrenaturais. O que de
início parecia uma futilidade se tornou assunto para pesquisa, pois tudo Rivail estudava de forma racional e científica.
Como se moviam as mesas? E por quê? Como tantos, ele iria
explicar esses fenômenos, inicialmente, pela existência de um fluido
elétrico. Depois, pela atuação do espírito dos mortos, assunto sobre
o qual se debruçou. Na primavera de 1855, ele participou de sessões
organizadas por sonâmbulos e seus magnetizadores. Como muitas
das mesas eram pesadas e lentas, a experiência se transformou.
Passou-se a usar cestas e chapéus até chegar, mais tarde, à chamada
escrita automática.
Sonâmbulos pousavam a mão na pena, esperando que o espírito
dispusesse dela. Dezenas de cadernos escritos dessa forma foram oferecidos a Rivail. Pouco a pouco, ele se convenceu de que as mensagens transcritas eram mesmo enviadas por espíritos extraterrestres. Ele complementava as informações dos escritos com diálogos que mantinha com os sonâmbulos magnéticos. Depois de preparar uma série de questões, ele as fazia às pessoas em transe, anotando as respostas que os espíritos transmitiam por sua boca ou pena. Rivail entreviu, então, a possibilidade de uma nova lei sobre a condição da alma após a morte e sua imortalidade.

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Quanto às críticas dos sábios que viam nisso uma diversão, Rivail
os repreendia: não bastava a ciência para entender tais feitos, pois ela
ignorava dimensões espirituais. Por isso, espiritismo e ciência eram
fenômenos complementares. Um não viveria sem o outro, e o seu inimigo
comum era o materialismo. O importante era criar métodos próprios
e desenvolver pilares para a compreensão da “ciência espírita”.
Em 1857, seus estudos conduziram à publicação de O livro dos
espíritos, contendo os princípios de sua doutrina sobre a natureza dos
espíritos, sua manifestação e relação com os homens, as leis morais,
a vida presente, a vida futura e o futuro da humanidade, escrito sob
ditado e publicado por ordem dos espíritos superiores.
Rivail o publicou sob o nome de Allan Kardec depois de saber por
seu espírito familiar, o equivalente do anjo da guarda, que esse fora seu
nome druida celta numa vida anterior. O recurso a um pseudônimo não
tinha nada de excepcional. Seria normal no meio espírita nos anos 1860
e ainda tinha a vantagem de não se expor numa época em que, embora
a heterodoxia religiosa fosse tolerada, sempre se corria riscos. Era também uma forma de proteger sua carreira editorial, sem dar chance de retaliação por parte de instituições de ensino religioso que tivessem adotado seus manuais. (…)

Kardec foi um pedagogo de grande integridade intelectual. Nem um monstro de erudição, como querem seus admiradores, nem um ser primário, como acusam seus detratores. Mas um trabalhador do conhecimento, sem fantasias e pouco inclinado a voos da imaginação. Ele estudou e verificou que os princípios da doutrina que então elaborava estavam em todas as formas de crenças e religiões, em diferentes épocas e lugares. Para ele, o espiritismo seria o elo entre todas as crenças. Seria também a aliança entre religião e ciência, o motor do progresso moral e intelectual na busca de uma fraternidade universal. Deus existia, sim. (…)

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Baseado em “Do outro lado – a história do sobrenatural e do espiritismo”, de Mary del Priore.

allankardecespiritismo

 Alan Kardec; capa do novo livro de Mary del Priore.

4 Comentários

  1. sarah borges de souza
  2. Dênison Costa
    • Dênison Costa

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