QUANDO O PATRIMÔNIO VIRA CINZAS

Por Natania Nogueira.

21dez2015 incenddio

Imagem disponível em: http://zip.net/bkszS3, acesso em 22 dez, 2015.

 

É difícil não sentir o impulso de escrever sobre a trágica perca do nosso patrimônio arquitetônico e cultural, com o incêndio que arrasou o Museu da Língua Portuguesa, na Estação da Luz, em São Paulo, ontem. É igualmente lamentável a perda de uma vida humana, vitima dessa tragédia. O fato em si serve para nos lembrar de que tudo da vida é perene, é passageiro.

O fogo tem sido um dos maiores inimigos do nosso patrimônio arquitetônico, histórico e cultural. A Biblioteca de Nínive, construída pelo Rei da Assíria, Assurbanipal, em 668 a.C., é considerada a por muitos estudiosos como a primeira biblioteca da História. Ela também foi vítima de um incêndio em 612 a.C. O prédio que abrigava a biblioteca se perdeu, mas seu acervo, composto de placas de argila, não foi destruído.

Coincidentemente, o mesmo ocorreu com o Museu da Língua Portuguesa. Apesar das exposições terem sido destruídas e o prédio ter sido severamente abalado, seu acervo permanente, digital, foi protegido. O prédio pode vir a ser restaurado e o museu voltar a funcionar em alguns meses, ou anos.

Nos últimos cinco anos, outros incêndios comprometeram acervos e prédios históricos. Em 21 de junho de 2010, um incêndio criminoso destruiu parte do prédio os arquivos e documentos do Museu Histórico e Pedagógico Amador Bueno da Veiga, em Rio Claro. Prédio ainda estava sendo recuperado e deve ser entregue à comunidade em 2016. Boa parte do acervo foi salva, uma vez que o edifício estava em reforma, e cerca de 15 mil objetos já haviam sido recolhidos, entre eles quadros, obras sacras, artigos utilizados por escravos e objetos e documentos que fazem referência à da revolução de 1932.

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Em 22 de janeiro de 2013, um incêndio atingiu o Museu de Ciências Naturais PUC Minas. Houve perda de parte do acervo composto por móveis, objetos e fósseis. No andar onde as chamas começaram estavam duas exposições, uma delas sendo uma sobre Peter Lund, que é considerado o pai da paleontologia brasileira.

Um último exemplo da vem da França. Um incêndio ocorrido em 20 de agosto do ano corrente foi registrado na Cité des sciences et de l’industrie (Cidade das Ciências e da Indústria), um dos grandes museus dedicados à ciência na Europa. Como parte do prédio afetada estava em obras, o acervo não foi totalmente comprometido.

Quando acervos são depositados em um espaço museológico ou uma biblioteca, deposita-se também a confiança de que lá eles serão bem tratados e utilizados. Ver esse patrimônio se perdendo por puro descaso, ou sendo, no caso, consumido pelo fogo é perceber os quão frágeis nós somos. Uma simples faísca pode transformar em cinzas um patrimônio que sobreviveu por séculos.

É sobre esta fragilidade que precisamos refletir. Quantas vezes deixamos de ir a um museu ou a um espaço cultural na certeza de que ele estará lá, esperando por nós? Imagino que, neste momento, muitos brasileiros devam estar se lamentando por não terem gasto alguns minutos ou poucas horas para conhecerem o Museu da Língua Portuguesa.

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Eis a realidade: nada dura para sempre. Valorize o patrimônio da sua cidade, frequente e cobre a manutenção dos museus, bibliotecas e centros culturais. Usufrua de um direito que é de todos, o direito a ter acesso ao conhecimento.

 

7 Comentários

  1. José Arnaldo de Castro
  2. José Arnaldo de Castro
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  3. Cláudia Reid
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