Preservação e Memória: pequenas vitórias, grandes avanços

Por Natania Nogueira.

Gostaria de começar o texto de hoje com uma boa notícia: O Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural decidiu, em reunião realizada no dia 3 de dezembro, que o Maracatu Nação, Maracatu Baque Solto e o Cavalo Marinho, manifestações da cultura popular pernambucana, são os novos patrimônios culturais de natureza imaterial. É reconhecimento da importância de atividades culturais que são fruto de relações comunitárias, são formas de compartilhar memórias, reforçar vínculos entre passado e presente, reafirmando a identidade cultural simplesmente por meio de práticas cujo aprendizado praticamente é oral.

Mais do que festas, do que danças, representam a religiosidade, a história de um grupo cujas tradições culturais se renovam a cada geração. Sim, cultura é renovação, memória significa aceitar a mudança, incorporar o novo ao antigo, acumular conhecimento por meio de práticas compartilhadas um ou vários grupos. É o conhecimento em sua representação mais pura.

A preservação de manifestações culturais, da cultura imaterial, tem superado a ideia de que o patrimônio se resume unicamente ao monumento, ao que remete à grandiosidade arquitetônica, ao poder das elites. O monumento está sendo superado pelo sentimento. Pelo sentimento de pertencimento presente em uma festa popular, em um espaço de memória, em uma manifestação simples como a confecção de um carroça ou mesmo a preparação de um doce.

Em um dos primeiros textos que publiquei aqui no blog falei justamente sobre isso, sobre a colonização da memória. Embora ainda estejamos longe de superar a atração pelo monumento, tem se ampliado no Brasil a noção de patrimônio. A memória tem sido reconhecida como um elemento formador, presente nos mais diversos espaços. Estamos descobrindo novos significados para elementos do nosso cotidiano, que antes pareciam simplórios ou simplesmente passavam despercebidos.

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Tudo isso, e muito mais, é parte da educação patrimonial que se faz nas escolas, claro, mas que também acontece quando assistimos a um documentário ou quando tomamos conhecimento de um texto em uma revista ou mesmo na internet. A sociedade é um organismo dinâmico em constante mudança. Como parte dela, nós mudamos também. Compartilhamos experiência, trocamos informações e acumulamos conhecimento.

É um processo tão natural que passa quase que despercebido. Mas é real e palpável. Se por muitas vezes temos falado e refletido sobre a importância da preservação em um sentido mais amplo, por outro temos também ampliando nosso conhecimento acerca daquilo que está sendo realizado nesse sentido. Há alguns anos, talvez o tema girasse simplesmente em torno do que está sendo perdido. Hoje, estamos refletindo acerca do que está sendo preservado.

Multiplicam-se cartilhas, livros, TCCs, dissertações e teses. Multiplica-se, também, o interesse de órgãos públicos, de municípios em investir no patrimônio histórico e cultural de uma região. Estamos dando um passo de cada vez, ampliando nossas redes, perdendo, mas também ganhando batalhas. Termino texto como comecei: comemorando uma vitória da cultura popular brasileira. Saúdo os pernambucanos, que estão reconhecendo e protegendo suas tradições. Ao mesmo tempo convido todos a lutarem pelo mesmo em suas cidades, em seus Estados. O tombamento ou reconhecimento de um bem cultural só é possível quando ele ocupa um lugar na formação de um grupo. Quando isso acontece, estamos ganhando muito mais do que a proteção de um bem, mas estamos fortalecendo a nossa identidade.

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Maracatu Baque Solto: patrimônio cultural.

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