Especial TCC – Pink e Cérebro e o domínio do mundo: para conquistar é necessário planejar – parte 2

Por Iuri Andréas Reblin.

Cada instituição de ensino superior possui seu próprio manual de metodologia e determina os tópicos que devem conter um projeto de investigação científica. Ainda assim, desconsideradas as pequenas variações que podem ocorrer entre as normas de uma instituição e outra, a estrutura padrão de um projeto de pesquisa pode ser descrita da seguinte maneira:

Título Provisório: O título provisório remete diretamente ao objeto de pesquisa. Em geral, é o escopo – uma sentença que resume o tema central e seus possíveis desdobramentos.

Objeto de pesquisa: Também chamado de tema ou assunto de pesquisa. É, sem rodeios, a descrição do objeto de pesquisa, em geral, constituído de um parágrafo apenas, umas 5 a 7 linhas, em pesquisas mais sofisticadas, um ou dois parágrafos, totalizando umas 15 a 20 linhas. Uma estrutura padrão do objeto de pesquisa é uma frase escopo e possíveis desdobramentos depois, expressando a delimitação.

Formulação do Problema: É a apresentação da problemática. Também, em geral constituída de um parágrafo de, digamos assim, umas 15 a 20 linhas. A primeira parte do parágrafo retoma o escopo do objeto e segue de uma “tempestade de perguntas”, no sentido de problematizar o tema. Ao final, o parágrafo se encerra com a frase “todos estes questionamentos conduzem ao seguinte problema de pesquisa:”, que remete à fatídica pergunta de pesquisa.

Justificativa: É a explicação breve e pontual do porque você quer pesquisar determinado tema. Em geral, é constituída, em média, de uma página, com parágrafos remetendo a uma breve contextualização do tema e a relevância do tema a ser pesquisado para você, para a sociedade ou o ambiente em que você está inserido, bem como de uma breve apresentação das possíveis contribuições que sua pesquisa pode trazer para o campo científico ou para a reflexão acerca do tema escolhido. Aqui é possível apresentar referências para embasar seus argumentos. Também se pode expor anseios e preocupações pessoais que motivam a escolha do tema (mas não restrito a isso, obviamente).

Hipóteses: São tentativas provisórias de dar uma resposta ao problema de pesquisa. São suspeitas, intuições, afirmações baseadas em conhecimento prévio e até em palpite (que a investigação irá confirmar se estavam acertadas ou equivocadas). Não são argumentos demasiadamente longos, mas ensaios de respostas diretas à pergunta que você elencou como central em sua pesquisa. (Pense naquele exercício de pergunta e resposta do ensino médio, isto é, as hipóteses devem estar voltadas diretamente à pergunta e não fazer demasiados “rodeios”). A sugestão é que se tenha umas duas ou três hipóteses. Dependendo da formulação do problema, as hipóteses mais sucintas possuem em média, no mínimo, umas 5 linhas).

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Objetivos: Dividem-se em “objetivo geral” e “objetivos específicos”. Todos os objetivos se iniciam com verbos no infinitivo e se referem ao destino, ao lugar onde você quer chegar e quais etapas são necessárias para se chegar lá. É apenas um objetivo geral, relacionado diretamente ao problema da pesquisa. Quanto ao objetivo geral, uma sugestão é transformar a pergunta de pesquisa (reescrevê-la) em um objetivo. Exemplo: Se a sua pergunta é: como se configura o cenário religioso no Rio de Janeiro no período colonial? Seu objetivo geral pode ser: investigar como se configura o cenário religioso no Rio de Janeiro no período colonial. Já os objetivos específicos remeteriam às etapas para que você alcance seu objetivo geral. Pense assim: para se fazer investigar o cenário religioso o que eu precisaria fazer? Descrever o período colonial; averiguar a chegada da religião no Brasil; caracterizar a relação Igreja e Estado; etc. Esses pequenos objetivos irão possibilitar que você alcance seu objetivo geral, portanto, são objetivos específicos, delimitados, que remetem a algo maior. Não há um limite para os objetivos específicos, pois estes estão relacionados à complexidade da pergunta e aos possíveis desdobramentos que ela pode evocar. Ainda assim, a média de objetivos específicos varia de três a cinco sentenças curtas (como descrito no exemplo).

Quadro teórico: Também é chamado de Referencial Teórico, Revisão de Literatura. Num projeto de pesquisa, essa parte ocupa em média 40 a 50% de todo o projeto, pois envolve a descrição sucinta da base teórica que você utilizará na sua pesquisa; isto é, quais serão os autores e as autoras, os temas ou os conceitos ou as categorias que você utilizará para fundamentar a sua pesquisa, todo o arsenal epistemológico necessário para a resolução do problema. Você vai apresentar aqui as ferramentas que você utilizará para resolver o problema. Exige um conhecimento prévio, prevê leitura preliminar das principais obras. Convém aqui uma breve descrição dos conceitos e obras a serem utilizadas, inclusive, com citações diretas e indiretas.

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Delineamento da pesquisa: Também é chamado de Metodologia. Aqui você explicará metodologicamente todos os passos que realizará para fazer a pesquisa. Trata-se do como resolver o problema, como alcançar os objetivos propostos. Lembre-se que um dos critérios de cientificidade está relacionado à reprodução da pesquisa. Um pesquisa só poderá ser reproduzida se tiver bem claro como ela será desenvolvida, desde o mapeamento bibliográfico inicial (passo 1) até a redação da pesquisa na forma de uma dissertação (último passo). Lembre-se que, em termos de “fundamentação metodológica” não é necessário explicar o método, apenas referir qual é o teórico da metodologia que você se baseará. Ex. “Está é uma pesquisa bibliográfica quanto aos meios, de fins exploratórios, de acordo com a classificação de Vergara…”. Em seguida, parte-se para a descrição do “passo a passo”. Isso porque o projeto de pesquisa não é uma “aula” de metodologia, mas a exposição dos parâmetros a serem utilizados na investigação.

Recursos: Refere-se à descrição breve dos recursos necessários para a realização da pesquisa. Pense nas seguintes questões: Há recursos financeiros/bolsas de governo? Há livros ou acesso aos livros? Há acesso a documentos históricos, a escolas ou outros ambientes para eventuais pesquisas empíricas? São questões a serem pensadas e respondidas nesse tópico. Vale ressaltar que um projeto de pesquisa é diferente de um projeto de ação social, de execução de obras, etc.; isto é, não se trata aqui de descrever um orçamento, do tipo: “1 computador no valor de R$ 2.000,00; dois pacotes de folhas A4 no valor total de R$ 24,00, etc.”, mas sim de apresentar se há condições que possibilitem a realização da pesquisa.

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Cronograma: Trata-se de estipular os prazos relacionados à pesquisa. Sugere-se dividir o cronograma por semanas ou meses. Em casos de mestrado ou doutorado, sugere-se dividir inicialmente por semestres e, depois, nos dois semestres finais, por meses. O cronograma compreende todo o processo de pesquisa, da inscrição no componente curricular do Trabalho de Conclusão de Curso até a entrega e defesa deste. No caso dos cursos de lato e stricto sensu, compreende toda a etapa do curso, do ingresso à defesa. Sugestão é colocar em uma tabela de duas colunas, num lado, o período temporal e, de outro, a atividade que será realizada neste tempo.

Esboço de estrutura: Opcionalmente, dependendo do estágio do projeto, pode-se fazer o esboço da estrutura do trabalho final, da dissertação ou da tese, indicando os temas dos capítulos. Não cabe aqui descrever tópicos e subtópicos, apenas sinalizar a organização temática do trabalho.

Referências: Trata-se da lista de referências da pesquisa. Diferente de um trabalho científico, no qual somente se indica na lista final as obras efetivamente utilizadas na pesquisa (citadas), no projeto de pesquisa indicam-se tanto as obras efetivamente utilizadas no projeto quanto as obras a serem consultadas ou garimpadas durante toda a investigação. Lembre-se que, quando você definiu o tema e o problema de pesquisa, você realizou um exercício de garimpagem de material. Nesse exercício, eventualmente, você identificou livros, capítulos, artigos, que podem vir a ser úteis no seu trabalho. É essa seleção que você descreverá aqui.

No próximo post, apresentaremos algumas dicas de como realizar leituras e fichamentos, ou seja, de como dialogar com textos e sintetizar as principais ideias. Até lá!

 

Prof. Dr. Iuri Andréas Reblin

Co-organizador de “Super-heróis, cultura e sociedade:

aproximações multidisciplinares sobre o mundo dos quadrinhos”

(Aparecida: Ideias e Letras, 2011. 186p.).

 

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