Pais e imperadores

Mesmo de volta a Portugal, D. Pedro I escrevia aos filhos que deixou no Brasil: “Meu querido filho. Estando a sair um navio para esta corte, não quis deixar de te escrever e te dar os parabéns do dia do teu nome, como o fiz o ano passado em Paris”. Seguia seus estudos e progressos, como se vê em cartas ao filho: “Vejo pelas tuas cartinhas […] e me convenço que tu fazes progressos. Duas cartas já escritas sem lápis e com tão linda letra”. Ou numa outra, conjunta a todos: “Muito sinto que não me digais alguma coisa relativa aos vossos estudos, mas penso que o motivo de assim não o fazerdes, não foi outro senão a pressa com que me escrevestes. É mister que dê os meus louvores à Januária pela boa escrita, e a Nhonhô e à Paula por terem feito seus nomes muito bem, tendo a desconsolação de ver que a Chiquinha não escreveu o seu também, como era para desejar. Espero que empregueis bem o tempo em que vos apliqueis”. Não foram poucas as cartas que D. Pedro escreveu, revelando a intensidade dos sentimentos, saudades e, como de praxe, orientações. O carinho dos apelidos – D. Pedro II era chamado de Nhonhô – não descurava da avaliação dos estudos.

D. Pedro II também era um pai amoroso e preocupado com suas filhas, principalmente Isabel, que herdaria o trono. A sociedade fechada em torno do palácio e da família imperial constituía uma hierarquia intocável, um mundo à parte. A proximidade com criados ou cortesãos não significava familiaridade. Além disso, as duas princesas viviam afastadas do público. As grandes moradias em São Cristóvão ou Petrópolis garantiam seu isolamento. No alto da pirâmide, o pai e monarca, senhor de autoridade indiscutível. Impossível contrariá-lo. Ele sabia colocar uma muralha invisível entre sua pessoa e as demais. Só relaxava a guarda com as filhas, a esposa e a Barral. A condessa e o imperador usaram o espírito para esconder do mundo a paixão que nutriram, por décadas, um pelo outro.
Carinho paterno? Muito: “Dá um beijinho em cada uma das pequenas e dize-lhe que não pude achar bonecas de cara de cera, irão das outras.” Dedicado, mas nunca indulgente. E Isabel a responder: “Meu caro Papai. Eu estimo que chegasse bem e que o tempo desse lugar fosse o que desejava. Eu dei bem minhas lições e ainda vou ler esta tarde com o mestre. Adeus, Papai, aceite um abraço e deite sua bênção à sua filha do coração.”

Ver mais  A princesa-berinjela

(Trechos de “O Castelo de Papel” e “A Carne e o Sangue”).

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D. Pedro I; D. Pedro II quando jovem; e Isabel, já mãe; relações familiares.

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