OFICINA DE PRESERVAÇÃO, FORMAÇÃO DO CIDADÃO

Por Natania Nogueira.

Em uma postagem anterior, falei sobre a questão do documento como patrimônio e da forma como ele, infelizmente, é tratado pelas autoridades competentes. O descaso, na maioria das vezes, é resultado da falta de uma política eficiente de gestão de documentos. Também falei que a preservação do nosso patrimônio é uma responsabilidade do poder público e da comunidade. Na mesma postagem, falei sobre o fascínio que a documentação antiga pode despertar sobre os alunos, em uma sala de aula.

Tenho isso não como uma suposição teórica, mas como uma experiência prática, que vem se repetindo há vários anos, com alunos tanto do ensino público quanto privado. Uma carta antiga, uma foto antiga, um livro ou mesmo objetos pouco encontrados no nosso dia a dia, mas que eram comuns para nossos avós, podem se tornar fascinantes para uma juventude voltada para os jogos eletrônicos e as redes sociais. Além disso, pode despertar não apenas o interesse do aluno pela história local como também torná-lo consciente da necessidade de preservação, em sua totalidade.

E, se além de mostrar, tornarmos os nossos alunos agentes de preservação? Que tal um pouco de prática para complementar a teoria?

No ano de 2011, fiz uma experiência. Na verdade, uma versão resumida daquela de 1996 quando, com meus alunos, localizei e higienizei documentos antigos da escola onde eu trabalhava (clique aqui para conferir). Desta vez foi algo mais simples, mas que teve um efeito rápido e concreto sobre os estudantes.

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Durante uma feira cultural, na escola, ofereci meus alunos uma oficina de higienização. Nesta oficina nós trabalhos com documentos oficiais, generosamente emprestados pela municipalidade. Eram livros de registros diversos, datados do século XIX, e que foram encontrados em condições e local inapropriados para sua conservação. A tarefa, naquele momento, ia muito além dos muros da escola: tratava-se de resgatar o patrimônio municipal.

Numa oficina que durou aproximadamente três horas, alunos com idade entre 13 e 14 anos higienizaram 27 livros. O resultado do trabalho foi entregue à Secretaria de Cultura: livros limpos, identificados e catalogados.

A experiência teve seus altos e baixos. Por exemplo, não foi bom trabalhar com tantos alunos ao mesmo tempo, pois não me permitiu dar a eles toda a atenção que precisavam naquele momento. No início, quando ainda estávamos na fase da limpeza manual, tudo bem. Mas depois, quando eu tinha que acompanhar o preenchimento da ficha de identificação de cada livro foi muito complicado. Por outro lado, alguns se destacaram ao tomarem a iniciativa de ajudarem os outros colegas.

Uma boa parte deles me chamou para olhar o que estava fazendo e para perguntar sobre o material que estava manipulando (coisas como o tipo de escrita e gramática diferente da nossa, a utilidade que o documento tinha quando foi produzindo, onde ele foi encontrado, qual era o mais antigos que havia ali).

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Diferentemente do que ocorreu no meus primeiro trabalho com preservação, desta vez contamos com a visita dos pais, que também participaram, com questionamentos e sugestões. De um modo geral. Achei que a grande maioria dos alunos gostou da atividade. Eles entenderam que estavam fazendo um bem à comunidade. Adorei os questionamentos do tipo “Onde estavam estes livros?”, “Por que estavam lá?”, “Não há um lugar para guardar?”, “Para que servem estes livros?” e, o melhor de todos, “Não era a prefeitura que tinha que fazer isso?”

A ideia era mostrar aos alunos que temos outros tipos de patrimônio, no caso o documental, que guardava em si parte da nossa memória e História. Que essa documentação precisa de um tratamento especial e de um espaço onde não apenas seja preservada mas, também, esteja disponível para consulta.

Trabalhar a ação pode trazer benefícios a curto, médio e longo prazo. O jovem estudante está formando suas opiniões, tem dúvidas, incertezas e precisa muitas vezes vivenciar aquilo que o professor repetidamente fala na sala de aula. Embora eu reconheça que uma boa teoria é importante, faz falta o lado prático do ensino, tanto para alunos quanto para professores.

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