O RPG na escola: o lúdico e a criatividade

Por Natania Nogueira.

 

Quando participei do 3º Prêmio Professores do Brasil, um dos projetos premiados foi o de uma professora de matemática que desenvolveu uma série de atividades usando jogos que estimulavam os alunos a usar o raciocínio matemático. Achei aquilo fantástico. Usar o lúdico como uma forma de estimular a mente dos estudantes é, sem dúvida, uma estratégia de ensino que deve estar cada vez mais presente nas salas de aula. Gosto de usar, com meus alunos, jogos de perguntas e respostas que trabalham não apenas com o conhecimento escolar, mas também com temas do dia a dia de cada um.

Os jogos, em si, são artefatos criados para divertir, mas que possuem uma carga pedagógica inegável. Nós aprendemos quando jogamos, mesmo que não percebamos isso. Quando crianças, somos estimulados a jogar. Quando adultos, infelizmente, ocorre o contrário. O que é uma pena, afinal, devemos desafiar nossa mente sempre, independentemente idade.

Os jogos são, por natureza, ótimos recursos para melhorar a aprendizagem, mas seu uso como ferramenta de ensino encontra ainda obstáculos no Brasil. Por exemplo, muitos professores não entendem que jogos podem ser criados a adaptados para todos os conteúdos: matemática, história, geografia, artes, língua portuguesa, enfim, todos os conteúdos podem se beneficiar com o uso dos jogos. Basta o professor motivar seus alunos.

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Um exemplo é o uso do RPG (Role Playing Game), também chamado de JDR (jogo de representação) um jogo de interpretação de papeis. Ele é uma brincadeira de contar histórias, que reúne o conceito de teatro com as regras de um jogo. Este jogo estimula a criatividade dos seus participantes que contam juntos uma história. O desafio de compor um enredo complexo, por sua vez, faz com que os participantes do jogo busquem por informações.

É uma atividade, portanto, que requer leitura, pesquisa e muita interpretação. Segundo o jornalista e autor de RPG, Flávio Andrade, “O RPG estimula um raciocínio globalizante” deixando para trás o “raciocínio linear” que caracteriza a maioria dos jogos. Ele ainda destaca o fato de que o RPG funciona como “ferramenta para preparar o jovem a interagir na sociedade, tanto profissional quanto socialmente”.

Entretanto, a sociedade alimenta um preconceito injustificado contra o RPG.  Muitos praticantes do jogo são vítimas de bullying, discriminação, hostilidade, intolerância e rejeição. No caso das mulheres que praticam o RPG ainda há o machismo. Os meios de comunicação têm sua parcela de culpa, pois muitas vezes apresenta apresentando o RPG de forma distorcida, a partir de rótulos que alimentam o preconceito.  Este preconceito é o maior obstáculo para a introdução do RPG nas escolas, como uma prática educativa.

No Brasil, o “medo” que se tem do RPG tem sua origem num episódio ocorrido em Minas Gerais, em 2001. Um assassinato ocorrido na cidade de Ouro Preto teria ligação com jogos de RPG e rituais de magia negra. O caso ganhou as páginas dos jornais e foi amplamente divulgado pelas redes de televisão. O que não se divulgou, pelo menos não com tanto alarde, foi que, oito anos depois, as investigações concluíram que o caso não tinha ligação com os jogos de RPG. Mas o sensacionalismo criado em torno da tragédia ficou no imaginário popular e, até hoje, olha-se a prática com desconfiança.

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Ao contrário da propaganda negativa, o RPG ele pode ser útil nas escolas como forma de desenvolver nos alunos o espírito do trabalho em equipe. Através do jogo é possível, por exemplo, resgatar valores morais e éticos, além de estimular o raciocínio, a cooperação e estimular o desenvolvimento mental e social.

O RPG tem sido levando tão a sério que se tornou tema de pesquisas de acadêmicas. A universidade Federal do Pará (UFPA) criou um site, o PesquisaRPG.ufpa.br, especialmente “dedicado ao fomento de pesquisas sobre jogos de RPG”.  Monografias, dissertações e teses sobre o uso do RPG na educação estão disponíveis na internet para aqueles que se interessam em conhecer mais sobre o assunto.

Seguem algumas sugestões de leitura:

VASQUES, Rafael Carneiro. As potencialidades do RPG (Role Playing Game) na educação escolar / Rafael Carneiro Vasques – 2008. Disponível em: http://zip.net/bnrztC , acesso em 09 jul. 2015

TEODORO, Luis Henrique de Souza. O RPG na educação: novas oportunidades de construção de conhecimento (2010).  Disponível em: http://zip.net/bfrzkX, acesso em 09 jul. 2015.

SCHMIT, Wagner Luiz. O RPG e educação: alguns apontamentos teóricos (2008). Disponível em: http://zip.net/btrzYz, acesso em 09 jul. 2015.

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  1. Quiof

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