O corpo é meu e faço dele o que eu quero. Será?

Tenho visto na mídia algumas celebridades que apelam para o corpo e a sensualidade (às vezes, para a vulgaridade) para ficar em evidência. Ok, isso não é nenhuma novidade. A questão é que muitas delas afirmam que estão sendo, na verdade, feministas. O discurso é de que a mulher pode e deve assumir sua sexualidade ostensivamente, assim como fazem os homens. Segundo Valesca “Popozuda”, “ser vadia é ser livre”. A norte-americana Miley Cyrus também entrou por essa linha feminista para justificar suas performances extremamente sensuais*. O que tenho notado é que este discurso tem encontrado grande aceitação, principalmente entre as mulheres mais jovens.

É certo que queremos ser donas de nossos próprios corpos. Entretanto, pode-se questionar se essa sexualização extrema não traz também muitos aspectos negativos. Assumir a própria sexualidade pode dar poder às mulheres, mas somos bem mais do que isso, não é? Afinal, uma das maiores queixas femininas é ser tratada como objeto sexual.  A argumentação de que estas celebridades não se comportam como objeto, mas como protagonistas, me parece complicada. Sejamos sinceras: caras, bocas, nudez e letras maliciosas são artifícios para alcançar o sucesso, sendo mais uma estratégia de mercado, do que uma escolha calcada na ânsia pela liberação feminina. Ou seja, a mulher de novo sendo apresentada como produto de consumo.

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Qual o efeito desta super exposição do corpo e desta sensualização extrema para o restante das mulheres?  Fazer pose de ”vadia” pode até ser libertador para quem assim o deseja ou lucra com isso. Pode vender CDs e revistas, trazer fama e dinheiro, mas inegavelmente joga mais lenha na fogueira da tradição da mulher-objeto. Alimenta mais ainda a ideia de que se você mostra o corpo, você “está querendo” – não importa quais são as suas verdadeiras intenções. Longe de criticar ou rotular quem quer que seja, acho que são questões que devem ser discutidas seriamente.

Outro ponto controverso é o culto ao corpo que essas moças incentivam.  A historiadora Mary del Priore já afirmou que a mulher de hoje é submissa a padrões de beleza inatingíveis. “Trocamos a dominação de pais, maridos e patrões por outra, invisível e, por isso mesmo, mais perigosa. A dominação da mídia e da publicidade. É ruim, e até pior, pois diariamente enfrentamos a tarefa de ter que ser eternamente jovens, belas e sadias. Não há prisão mais violenta do que aquela que não nos permite mudar. Que nos bombardeia com imagens de eterna juventude, nos doutrinando a negar as mudanças”, destaca em seu livro “Corpo a corpo com a mulher”.

E todas essas celebridades passam por uma série de intervenções estéticas, cirurgias plásticas no rosto e corpo, implantes de silicone, bronzeamentos, lipoaspirações, , e tantas outras coisas, que às vezes, ficam até irreconhecíveis. Tudo para se adequar aos padrões de beleza vigentes – como sempre.  Então, a pergunta que fica é: esta é a nova cara do feminismo? Finalmente, a mulher se tornou dona de seu corpo? Ou assistimos à mesma novela de exploração do corpo feminino, embalada por um discurso que se diz libertador? – Márcia Pinna Raspanti.

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 *há muitos outros exemplos que poderiam ser citados, mas me ative a essas duas cantoras por uma questão de espaço.

Valesca-popozuda-1

 Valesca “Popozuda”.

22 Comentários

  1. Tai
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