Notas sobre o envelhecimento: trabalho, casamento e bem-estar

Desenvolver uma cultura de cuidados com a saúde que leve em consideração as diferenças entre homens e mulheres no processo de envelhecimento. Essa é a principal mensagem do IX Fórum da Longevidade Bradesco Seguros, que aconteceu em outubro, em São Paulo, com o tema “Caminhos e desafios de homens e mulheres rumo à longevidade”.

Para a historiadora Mary del Priore, uma das palestrantes do evento, as mulheres são “as agentes secretas da modernidade”. Mary chamou a atenção para o fato de que, no passado, a mulher trabalhava com outras mulheres, como escravas, irmãs, mães, avós. “Hoje, ela está só, com as mesmas tarefas familiares e domésticas, embora componham mais de 50% da força de trabalho no Brasil”, explicou. Por isso, acredita, é crescente o número de mulheres que escolhe não ser mãe. “É uma ruptura histórica e uma libertação”, disse ela.

Por outro lado, para a historiadora, se as empresas hoje perdessem as mulheres seria uma catástrofe. “Mas estamos apenas no início de uma negociação rigorosa e permanente entre as mulheres e as empresas”, acrescentou, defendendo a flexibilização do horário de trabalho e a redução da carga horária.

O fato de que se diga “cuidadora”, no feminino, e não “cuidador”, é um indício claro da construção social dos papéis ditos femininos e masculinos. “Trata-se de uma herança cultural”, explicou a antropóloga social Mirian Goldenberg, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), uma das palestrantes.

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Numa vasta pesquisa sobre as relações entre a saúde, o envelhecimento e a questão do gênero, Goldenberg distribuiu questionários sobre o tema a cerca de 1.500 idosos e fez 50 entrevistas em profundidade. De acordo com ela, se é verdade que as mulheres morrem mais tarde do que os homens, como já se sabe, também é verdade que, na velhice, quem cuida das mulheres são suas amigas e quem cuida dos homens são as mulheres. “A única categoria social que inclui todo mundo é a categoria dos velhos, os que já são velhos e os que serão velhos um dia”, avisou a antropóloga. O melhor cuidado, disse ela, ao propor uma “bela velhice”, é ter um projeto de vida.

A geriatra Claudia Burlá relatou suas experiências clínicas com homens e mulheres. “Globalmente, a faixa etária que mais cresce é a faixa acima dos 80 anos”, lembrou Burlá. Ela confirmou que as mulheres, em geral, vivem mais do que os homens. “Mas também são mais frágeis do que os homens e, quando adoecem gravemente, demoram mais para morrer”, explicou. Ao final, confirmou um conselho da antropóloga – “rir muito” – e alertou: “O mau humor envelhece!”.

A professora Maria Victoria Zunzunegui, do Departamento de Medicina Social e Preventiva da Universidade de Montreal, no Canadá, expôs alguns resultados de sua vasta pesquisa sobre as diferenças de gênero na velhice. Especialista em envelhecimento, Zunzunegui entrevistou e testou idosos em cinco cidades do mundo: duas no Canadá, duas na América Latina (Natal, no Brasil, e Manizales, na Colômbia) e Tirana, na Albânia.

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Suas pesquisas apontaram diferenças substanciais entre os gêneros na comparação entre o Canadá e a América Latina. “Homens e mulheres constroem de forma muito diferente suas personalidades e essa construção social sempre depende da região, da alimentação e das atividades físicas”, explicou. No Canadá, onde as questões de gênero estão mais bem resolvidas, homens e mulheres mostraram desempenho semelhante nos testes, por exemplo, de mobilidade.

Nas duas cidades latino-americanas, porém, o desempenho das mulheres é muito pior. “Há algo relacionado com o meio ambiente e os papéis sociais podem explicar essas diferenças”, ponderou a pesquisadora, para quem as causas podem ser também econômicas, não apenas culturais.

John Gray, escritor e especialista em relacionamentos nos Estados Unidos, que se notabilizou ao publicar, em 1992, o livro “Os homens são de Marte, as mulheres são de Vênus, afirmou que a principal condição para criar longevidade é “ser feliz no casamento”.

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Felicidade conjugal: longevidade.

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