Mulheres contra mulheres

Por Mary del Priore.

A mídia e as redes sociais vêm expondo um problema velho: a violência ENTRE mulheres. O bullying  praticado contra aquelas colegas que não correspondem a determinado padrão de beleza se tornou mania. O motivo é fútil e supérfluo, mas, as consequências, não. Jovens ficam marcadas e sofridas, o que não é pouco, naquela fase da vida que os poetas creem que lhes oferece todos os possíveis.

Mas a crueldade entre mulheres não é novidade. O tema é apenas pouco estudado pelos historiadores de gênero, que preferem as violências de homens contra mulheres. Essas, infelizmente, muito mais evidentes e apoiadas em abundante documentação. Afinal, como pensar a violência das mulheres, quando a violência contra elas é tão grande? Quando as delegacias de proteção às mulheres, nos finais de semana, se enchem com vítimas do alcoolismo, drogas e a miséria de companheiros? Uma segunda violência se repete às segundas-feiras: acuadas ou amedrontadas, essas mesmas vítimas voltam para retirar a queixa que fizeram. Afinal, a bebedeira passou e o companheiro foi trabalhar, razão para continuar vivendo junto.

Ah, mas, sabemos, sim, ser más com nossas irmãs, e isso deveria ensejar estudos sobre como a sociedade vive, pensa e imagina a violência feminina. É preciso sair da zona de conforto que ensina que as mulheres se tornam violentas porque as sociedades vivem sob dominação masculina. Porém, ocupar-se deste tema “pega mal”, pois ele macula a imagem que nos fazemos da história das mulheres enquanto vítimas permanentes de um universo machista.

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Trata-se de dois momentos da vida real (violência DAS/violência CONTRA) usadas por diferentes sociedades de maneira diversa e em diferentes momentos. É preciso pensar o tema e debruçar-se sobre a delinquência feminina que existe desde sempre. Gilberto Freyre foi o primeiro a denunciar os casos horrendos de senhoras que, por ciúmes, maltratavam suas escravas arrancando-lhes os dentes, deformando seus corpos e rostos, e até matando-as. Os arquivos e processos-crime trazem histórias de patroas que escravizaram ou maltrataram suas criadas; de vizinhas que denunciaram a moradora do lado por prostituição ou maus costumes, porque ela “não é igual”; sem contar as mães que batem ou matam seus filhos e filhas que golpeiam e atormentam seus pais.

Uma história a fazer…

menina surra

Ágatha Luana Roque, 16 anos, de Limeira (SP) foi agredida em abril, e o episódio deixou sequelas neurológicas. O espancamento ocorreu dentro da sala de aula e as agressoras foram as colegas.  Este é apenas um de muitos casos.

2 Comentários

  1. Adriana Weber
  2. Adriana Weber

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