AS BANCAS DE JORNAL ESTÃO SE TORNANDO PARTE DA MEMÓRIA DAS CIDADES BRASILEIRAS

Por Natania Nogueira.

       As bancas de jornal, também chamadas de quiosques, começaram a se popularizar no nosso país no início do século XX. No Brasil, a impressão de jornais só teve início com a vinda de Dom João VI, em 1808, quando começam a circular os primeiros jornais impressos. Em 10 de setembro daquele ano, começou a ser distribuída a “Gazeta do Rio de Janeiro”, o primeiro jornal impresso no país.

      Daí em diante, os jornais foram se multiplicando, saindo das capitais e chegando ao interior do Brasil. Eles eram entregues nas casas ou vendidos nas ruas por escravos africanos vindos da Costa do Ouro[1]. Eram os escravos de ganho que atuavam, entre outras coisas, como vendedores ambulantes. Eles foram, também, os primeiros gazeteiros (vendedores de jornais). Após a abolição, os escravos foram substituídos por crianças e jovens que recebiam alguns trocados pelo trabalho.

      As bancas de jornal teriam surgido no Brasil por volta de 1860, depois do dos jornais começarem a ser vendidos de forma avulsa. O primeiro jornal com venda avulsa começou a circular em 1859, era o “A Actualidade: jornal político, litterario e noticioso”. O jornal era publicado aos sábados, na Rua da Alfândega, 42 e, em seu cabeçalho anunciava: vendem-se números avulsos a 240 rs.[2]

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     Acredita-se que primeiro jornaleiro a ter montado um ponto fixo de venda de jornais na cidade do Rio de Janeiro foi o imigrante italiano Carmine Labanca (daí a denominação “banca”). A primeira banca consistia em tábuas sustentadas por caixotes onde os jornais eram vendidos. Na década de 1910, estas bancas rústicas toraram-se pequenos barracos de madeira e, em meados do século XX, começaram a ser substituídas pelas de metal.

    Se no início as bancas vendiam apenas jornais, com o surgimento das revistas em quadrinhos elas começaram a diversificar seu material impresso, deixando de ser local frequentado apenas por adultos e passando a atrair também a atenção das crianças. Meninos e meninas corriam às bancas com trocados que sobravam da merenda da escola ou economizados durante o mês para trocarem por gibis, figurinhas, livros de colorir e as populares bonecas de papel.

      Atualmente, com o advento da internet, as bancas têm assumido novas atribuições, dada a diminuição da venda de revistas e jornais impressos. Muitos jornaleiros têm sobrevivido da venda de balas, doces, lembrancinhas, da recarga de celulares. Elas estão se tornando mais parecidas a cada dia com lojas de conveniência. Segundo pesquisas recentes, o número de bancas de jornal vem diminuindo a cada ano nas cidades grandes e, no interior, podemos encontrar localidades onde elas estão em vias de extinção ou não já não existem mais.

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    Consequência da evolução dos meios de comunicação, as bancas de jornal que durante a ditadura foram símbolos de resistência ao regime, vendendo material subversivo, hoje estão cada vez mais descaracterizadas da sua função original e se tornando parte da memória do jornalismo e das cidades brasileiras. E não apenas no Brasil.

     Trata-se de uma tendência mundial. Jornais e revisas impressos têm migrado para a forma digital ou simplesmente encerrando suas edições. Há quem preconize que na próxima década não haverá mais livros impressos e, portanto, será a vez das livrarias seguirem o caminho das bancas de jornal e deixarem de cumprir sua função original para sobreviver e atender as novas tendências do mercado.

 

Sugestão de leitura:

COUTO, Mayara. Bancas de revistas resistem numa metrópole que lê cada vez menos. Disponível em: http://curiosamente.diariodepernambuco.com.br/project/bancas-de-revistas-resistem-numa-metropole-que-le-cada-vez-menos/, acesso em 15 jun. 2017.

GOUVEIA, Indinayara Francielle Batista, BRAGA, Brunon Braga, FONSECA, Luciana Silva, NETO Elpidio Rodrigues da Rocha. De bancas de jornal à loja de conveniência: análise da adaptação às perspectivas do mercado. Revista Humanidades. Disponível em: http://www.revistahumanidades.com.br/arquivos_up/artigos/a108.pdf, 15 jun. 2017.

 

[1] BAHIA, Juarez. Dicionário de jornalismo: século XX. Rio de Janeiro: Ed. Mauad, 2010.

[2] HEMEROTECA Digital da Biblioteca Nacional. Disponível em: http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx, acesso em 15 jun. 2017.

 

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Meninos vendedores de jornal – Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/381539399664195038/, acesso em 15 jun. 2017.

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