Nabuco: um político diferente

Em tempos de total descrença com a classe política, vale a pena conhecer mais a respeito de um dos grandes homens públicos da História do Brasil , que lutou pela Abolição e atuou na diplomacia republicana

 

            Num dia frio de inverno, o 19 de janeiro de 1910, fechou os olhos em Washington, capital dos Estados Unidos da América, um dos mais importantes estadistas do Império brasileiro: Joaquim Nabuco de Araújo. Em 2010, comemoram-se 100 anos de sua morte: boa ocasião para lembrar sua personalidade múltipla e atuação nos destinos do país.

            Nascido no Recife, à rua do Aterro da Boa Vista n.39, a 19 de agosto de 1849, Joaquim Nabuco passou sua infância no engenho Massangana. Foi criado por sua madrinha, D. Ana Rosa Carvalho, que não tinha filhos e o cobriu de cuidados e carinhos: “Foi graças a ela que o mundo me recebeu com um sorriso”, diria mais tarde.

Passou os primeiros anos de vida, entre os canaviais que faziam a riqueza de Pernambuco e os cativos que ali trabalhavam. Desde cedo aprendeu a detestar a escravidão. Era conhecido como “o iôiô que não castigava escravos”.  Aos oito anos, acordou certa noite, em meio ao choro das pessoas. Morreu sua protetora e ele teve que ir morar com os pais. Reencontrou-os na Corte – o Rio de Janeiro. Descreveu-se, então, como “um órfão em casa de tutor bondoso, onde todos se esforçassem de o reconquistar”.  Entre 1858 e 1870, estudou nas melhores escolas, inclusive o Colégio Pedro II, preparando-se para ir para São Paulo. Queria estudar Direito, nas Arcadas. Datam desta época os primeiros escritos contra a escravidão e sua ligação com o jovem poeta baiano, Castro Alves, autor do célebre poema “Navio Negreiro”. Ali, também conheceu Rui Barbosa e os futuros presidentes Rodrigues Alves e Afonso Pena.

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Joaquim Nabuco voltou ao Recife para terminar os estudos e escandalizou a Província ao defender, no tribunal de Olinda, um escravo duplamente homicida: o negro Tomás. O processo fez história, pois Nabuco não mediu palavras: o responsável pelo crime? A violência da própria escravidão! Recife reagia chocada. O ambiente conservador e rígido da cidade, iria transformá-lo num radical.

“Quincas, o belo” ou “Seu Quinquim de Massangana” se sobressaía, além de suas idéias, por ser galante. A sua volta, se multiplicavam festas, namoros, conquistas. Era belíssimo homem. Um caso amoroso com certa senhora casado foi o estopim para o início da carreira diplomática. Em 1876, seguiu para Washington como adido diplomático. Mas não se adaptou ao jeito americano de viver. De lá, foi para Londres, trabalhar no escritório da legação diplomática brasileira. Nabuco tinha admiração pelas instituições políticas inglesas e a cultura francesa. Em 1878, faleceu seu pai, o famoso senador Nabuco de Araújo e ele voltou ao Brasil. Tinha início a sua carreira política.

Foi eleito em 1878, derrotado em 1881 e reeleito em 1884. A plataforma eleitoral se chocava com os interesses dos senhores de escravos. Sua bandeira: “guerra à escravidão”. A ela se somavam outras ideias como liberdade religiosa e liberalismo. Ligou-se ao abolicionista André Rebouças e junto com outros intelectuais fundou O Abolicionista, folha mensal para a qual colaborava. No meio tempo, voltou à Londres, de onde escreveu um livro-propaganda, O Abolicionismo, onde denunciava as mazelas do sistema. Em 1886, com a volta dos conservadores ao poder, Nabuco não conseguiu se eleger. Afastou-se, então, da vida política e passou a colaborar com o Jornal do Comércio, a convite de Quintino Bocayuva.

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Em 1887, ele foi a Roma. Em visita ao Papa Leão XIII, pediu apoio para a causa abolicionista. Nabuco sabia das ligações da princesa Isabel com o papado e achou que esta seria uma boa forma de pressionar a família imperial.  Resposta de Leão XIII: “O que lhe toca, toca também ao coração da Igreja”. De volta ao Brasil, Nabuco ajudou ao chefe do gabinete conservador, João Alfredo de Oliveira, apressar a Abolição.

Em 1889, Joaquim Nabuco casou-se. Afastado da vida política, pode dedicar-se à doméstica. Tinha uma enorme nostalgia dos tempos do Império. A República, frustrou a muitos liberais e ele foi um dos decepcionados. Recusava-se a participar do novo regime político até que foi convidado a defender o Brasil numa disputa diplomática com a Inglaterra. O tema? As fronteiras das Guianas. Embora tenha perdido a questão, se tornou o chefe da legação brasileira em Londres (1900-1905) e depois o primeiro embaixador brasileiro nos EUA (1905-1910). Ali, abraçou e defendeu a causa do “pan-americanismo” – a integração entre as Américas, visando à aliança mais estreita entre Brasil e EUA. Em 1909, registrou: “Não fui feito para velho”. Dias depois fechou os olhos, deixando uma das mais belas e sólidas imagens do que os políticos brasileiros poderiam ser: dignos, corajosos e dedicados ao país.- Mary del Priore.

Naboucovelho 

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2 Comentários

  1. Mirian B Freitas

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