LUGAR DE LIVRO NÃO É NO LIXO

Por Natania Nogueira.

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Livro raro doado vai ser usado por alunos do curso de letras de universidade paulista

 

Doar livros pode ser muito mais do que uma boa ação. Pode abrir caminho para a produção de conhecimento, para o alargamento de horizontes de pesquisa, para a formação de novos profissionais. E não é exagero.

Quantas vezes nos deparamos com notícias de catadores de papel que conseguiram se formar na educação básica e em universidades estudando em livros que encontraram no lixo? O livro jogado no lixo mudou a vida daquelas pessoas e poderia ter mudado a de muitas outras, se estivesse disponível em bibliotecas públicas ou escolares. Livros em lixões vêm se tornando uma realidade cada vez mais comum. Não raro, assistimos a matérias de telejornais que mostram pilhas e mais pilhas de livros, na sua maioria didáticos, descartados por escolas. Muitos deles ainda dentro de suas embalagens. Desperdício de dinheiro público e um péssimo exemplo por parte de uma instituição que deveria ensinar a valorizar o livro.

Mas não apenas as escolas fazem isso. Há cerca de uma semana e meia, passei em frente a um condomínio. Chovia forte. Empilhados ao lado do latão de lixo, havia dezenas de livros escolares, descartados pelo dono ou dona. Os livros foram colocados para o lixeiro levar. Fico imaginando o valor que eles NÃO receberam. Bastava gastar um pouquinho de tempo e procurar uma escola para oferecer o material. Eles poderiam ainda ser aproveitados, poderiam servir ao propósito para o qual foram criados. A ideia de livro descartável me incomoda profundamente.

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O descarte, na minha concepção, só deve acontecer quando o livro não apresenta mais condições de uso. Citei o exemplo de publicações didáticas, mas há outros tipos de acervos que estão sendo perdidos. Acervos que possuem edições antigas e raras de livros que, para muita gente, podem parecer não ter valor, pois estão “desatualizados” ou não seguem a norma atual da gramática. Muitos deles são raridades que, nas mãos de um pesquisador, de um arquivo ou de uma universidade, fariam muita diferença.

Da mesma forma como descartam-se livros didáticos “velhos”, este tipo de documento também vai parar em lixões. Por mais de uma vez, encontrei empilhados ou em caixas para serem levados por lixeiros livros do início do século XX ou mesmo manuais do século XIX. Recordo-me de pelo menos três vezes. Alguns eu recolhi para meu uso, muitos repassei para arquivos históricos, universidades e colegas pesquisadores. Da mesma forma, amigos que sabem do meu interesse por livros, jornais e quadrinhos antigos, ocasionalmente me presenteiam com algumas edições.

No início do ano, por exemplo, recebi duas revistas em quadrinhos publicadas na primeira metade do século XX. Duas raridades que não apenas serão guardadas com zelo, mas que, futuramente, serão utilizadas para pesquisa. Esta semana recebi, de uma colega de trabalho, vários volumes de manuais de língua portuguesa, todos obras raras. Eles serão enviados para uma amiga, professora universitária, que pretende usá-los com seus alunos no curso de letras, como objeto de pesquisa.

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Doar ou repassar livros doados é sempre gratificante, mas é preciso escolher a dedo quem deverá recebê-los. Arquivos históricos, universidades, bibliotecas e museus são os lugares ideais. Mas é necessário se informar sobre a pessoa ou a instituição a quem pretende doar seus livros. Muitas bibliotecas municipais, por exemplo, não possuem setores de obras raras e livros antigos podem ir parar em um porão onde vão deteriorar lentamente. Visite a instituição e verifique se não será este o caso. Muitas escolas, quando há troca de livro didático, descartam os livros antigos de forma racional. Outras escolas incentivam feiras de troca de livros, onde funcionários, alunos, professores e pais trocam livros, prolongam seu uso e ainda incentivam a leitura. Deixam de ser descartáveis e passam a ser reaproveitáveis.

Pense no assunto. Dê a seus livros uma chance de sobrevida. Não apenas a eles. Sempre haverá alguém interessado em fotos, documentos e jornais. Você estará não apenas incentivando a cultura, mas, também, preservando a memória literária do nosso país.

8 Comentários

  1. Bruno Cesar
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