“Independência ou morrer”: versos patrióticos

     A 9 de setembro deixando o governo da província entregue a uma junta provisória nas mãos de D. Mateus, bispo diocesano, do ouvidor e do comandante da praça de Santos, D. Pedro partia para o Rio, com uma pressa igual à da
viagem de volta de Vila Rica. Regularmente, os correios faziam em oito dias o percurso das 96 léguas entre São Paulo e a capital do Brasil. A despeito de chuvas e temporais, D. Pedro o fez em cinco.

     Não há muitas informações sobre o que aconteceu com o príncipe até 12 de outubro, seu aniversário e dia da Aclamação como imperador constitucional e defensor perpétuo do Brasil. Sabe-se que, na mesma noite em que chegou, reuniu-se com a maçonaria e o antagonista de Bonifácio, Gonçalves Ledo, a quem chamava amistosamente de “meu Ledo”, em correspondência privada. Segundo alguns de seus biógrafos, embora considerasse Bonifácio seu homem de maior confiança, foi hábil. Não se isolara do grupo adverso ao seu ministro.

Nesse período, as atividades maçônicas tinham se ampliado. O exemplo da loja do Grande Oriente Brasileiro é conhecido: ela se tornara um foro de debates, mobilização e contato entre as forças políticas. O segredo e a discrição que cercavam seus membros tornavam o espaço maçônico ideal para articulações que seriam ilegais se exercidas publicamente. Foi entre debates acalorados do Grande Oriente que surgiu a ideia de se chamar império o país que seria independente e imperador, seu primeiro governante. Alguns historiadores afirmam que partiram daí, também, emissários encarregados de difundir a ideia da independência, coletando apoios para o
jovem príncipe em outras províncias.

Aclamação de D. Pedro, por Jean-Baptiste Debret

No dia 15, aniversário da adesão de Lisboa ao movimento revolucionário do Porto, não houve comemoração. D. Pedro e Leopoldina voltavam, porém, ao Teatro São João, onde costumava se reunir a gente mais representativa da
sociedade. Aí o casal foi aclamado com “o mais vivo entusiasmo”, contou um diplomata. Choveram palmas. Tanto no salão quanto nas ruas, o povo já ostentava as novas cores do país: o verde e amarelo em lugar do azul e branco português.

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Três dias depois, anunciava-se no Diário do Rio de Janeiro a venda dos versos “Independência ou Morrer, glosada em 16 quadras patrióticas”, por quarenta réis nas lojas de livros da rua da Alfândega. As palavras representavam bem o que pensava a maioria da população sobre ter um “rei novo”:

“Pátria, Pedro e Carolina,
Protestamos defender,
Eis a divisa da glória,
Independência ou morrer
Da Brasílica Assembleia
Supremas leis vão nascer,
Tem por base inalterável,
Independência ou morrer.
Este reino outrora escravo,
Escravo não torna a ser.
Emancipou-se, está livre,
Independência ou morrer.
Ao defensor do Brasil
É tempo de conceder
Trono, cetro… o véu se rasgue
Independência ou morrer.”

  • PRIORE, Mary del. “A Carne e o Sangue”. Editora Rocco, 2012.

D. Pedro I, debret

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