Sessenta anos após a morte de Adolf Hitler, Mein Kampf retornou à Alemanha. Um sucesso. Duas semanas depois de seu lançamento, não se encontrava mais nenhum exemplar. Apesar de estar em domínio público e poder ser baixado na internet, o livro que suscita tanta polêmica, se esgotou. A demanda dos leitores alemães ultrapassou a oferta e a previsão do editor no país.
Originalmente destinado aos universitários, e publicado numa edição de 2.000 páginas e 3.500 notas, Mein Kampf acabou nos estoques antes mesmo do lançamento, como informou o Diretor do Instituto de História Contemporânea de Munique, IZF, que se ocupou da realização das notas: “cerca de 1.500 encomendas vindas do mundo inteiro já tinham se registrado”
Para quem não sabe o livro, ou melhor, o manifesto escrito em 1926, lança as bases ideológicas do programa nazista e propaga um violento discurso antissemita. Para quem não sabe, também, foi revisto e corrigido várias vezes. Quando lançado em 1935, vendeu doze milhões de exemplares e era oferecido como presente de casamento pelos dirigentes do III Reich. Funcionários públicos eram obrigados a comprá-lo. Depois da guerra, o panfleto foi proibido na Alemanha e nos Países Baixos, mas, desde 1937 foi reeditado na França. Apenas, interdito de ser exibido nas vitrines.
Frente à resistência e às polêmicas suscitadas por sua reedição em 2015, os historiadores reagiram: é preciso esclarecer definitivamente que Hitler foi o revelador de uma profunda crise política, não apenas na Alemanha, mas em toda a Europa. “Nem psicopata alucinado, nem mágico capaz de magnetizar as multidões, mas o autor de um ensaio pesado e cansativo que deve ser mostrado como tal”, segundo o especialista em nazismo, Christian Ingrao, diretor do Instituto de História do Tempo Presente, em Paris. “O texto foi também o catalizador de um projeto político do qual é preciso mostrar as evoluções, as coerências internas, sublinhando, sobretudo seu grande poder de atração. É preciso entendê-lo em seu sentido histórico e político. O livro não transforma ninguém em nazista. É um livro que só convence os convertidos” – ele explica.
No texto, Hitler choraminga sobre sua própria sorte, maldizendo a todos: os ingleses, os franceses, todo o mundo, sobretudo, os judeus. O plano? Submeter o mundo e fazer da raça alemã, seu dirigente. Um tal hino ao ódio caiu sobre uma Alemanha humilhada, saída da guerra de 1914-1918. O resultado, conhecemos: uma das maiores, senão a maior tragédia do século XX.
Sobre as aventuras de Hitler nos trópicos, conheço uma história. É a de um professor apaixonado por sua missão, querido dos alunos e grande historiador. Seu nome, Eduardo Posidônio. Ele ensina no Grande Rio, em escolas públicas. Certo dia, um grupinho de alunos chegou vestindo camisetas com suásticas, fazendo a saudação nazista e macaqueando os soldados da SS. O professor não teve dúvidas: chamou os pais. Numa reunião explicou a história, esclareceu os personagens e mostrou as imagens terríveis da guerra e sobretudo dos campos de concentração:
“- É isso que querem para seus filhos? ”.
Não, professor Eduardo, eu também não quero isso para os meus…. Quero, sim, professores como você: que têm compromisso com o ensino, o exemplo, a educação.
– Texto de Mary del Priore.
* Sobre a enquete realizada pelo blog História Hoje a respeito da reedição no Brasil do livro “Minha Luta”, de Hitler, a maioria dos leitores acredita que o livro deve ser liberado pelo seu valor histórico.
Gostaria de salientar que o lançamento do livro não foi em 1945 como está no texto, sim 1935. Parabéns pelo seu texto Marcia.
Obrigada pela correção. Esse texto é de Mary del Priore.