Esportes e Esportistas

Época de férias sempre faz pensar em ar livre, sol e esporte. E daí lembrar das atividades físicas, e de que elas, também, têm uma  história. Elas começam como ‘jogos”, na Grécia Antiga, evoluindo para o que se convencionou chamar de “sport”, na Inglaterra. No Brasil, o desporte se desenvolveu, durante o século XIX. Nesta época foram criados clubes e calendários de competição. Surgiram especialistas que anunciavam os futuros técnicos e bancas, com lucrativas apostas. Já, na segunda metade do Oitocentos, a imprensa mencionava as atividades que reuniam grupos de diversas origens sociais. Elas foram importadas pelos filhos da elite que faziam seus estudos na Europa e por imigrantes, destacando-se, entre eles, os ingleses. Na mesma época, o esporte se tornou importante estratégia educacional, integrando o currículo de escolas protestantes ou católicas.  Muitos de nossos escritores como Machado de Assis, Raul Pompéia, Arthur de Azevedo ou João do Rio escreveram sobre o tema.

Só que o termo cobria, então, as mais variadas atividades: desde rinhas de galo à capoeira. De lutas de boxe a corridas de cavalo nas praias ou raias de areia. De corridas de velocípede – embrião do ciclismo -, ao remo e deste, às touradas. Dos banhos de mar ao cricket e ao tênis, desenvolvido pelos britânicos. Ou a patinação cujos “rinks”, com respectivos instrutores para ensinar truques sobre o gelo, existiam de 1820.

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Um dos “sports” que mais encheu a página dos jornais foi o turfe. Em 1851, o major João Guilherme Suckow, que tinha vindo ao Brasil para organizar o transporte urbano na base de carruagens e charretes puxadas por cavalos e burros, inaugurou um “club de corridas”, na Corte, Rio de Janeiro. É dele a ideia de promover benefícios e incrementar a prática das corridas de cavalo, mas, também de importar a moda em voga na França e Inglaterra.

 A inauguração do Prado se fez na presença da família imperial, – D. Pedro II e D. Teresa Cristina – e mais quatro mil pessoas de diferentes camadas sociais e ambos os sexos. A cidade, então, se expandia em direção às zonas Nortes e Sul, multiplicando hipódromos. Havia os ‘nobres’, como o Derby Club (Maracanã) e o Jockey Club (Engenho Novo), e locais de corridas mais populares, como o Prado Guarani, em São Cristóvão, conhecido pelos cavalos peludos e pangarés que aí disputavam. As antigas touradas e rinhas vão sendo lentamente substituídas por novas modalidades de entretenimento nas quais o jogo e a aposta, contudo, continuavam presentes.

Olavo Bilac assim comentava o evento: “Às quintas-feiras e domingos, abriam-se ao povo, três, quatro, cinco prados de corridas. Os bondes levavam gente nos bancos, nos estribos, nas plataformas, nos tejadilhos. As locomotivas da Central arrastavam comboios de dez a doze vagões atulhados de uma multidão risonha e barulhenta”.

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            Outra moda desportiva veio com o remo. De início, as corridas eram realizadas por  catraieiros e pescadores que, no fundo da baía de Guanabara, conduziam pessoas para contemplar o mar. Em 1846, por exemplo, o Jornal do Commércio noticiava a competição entre as canoas Lambe-Água e Cabocla, nas águas do Rio de Janeiro: “grande era a ansiedade entre as rivais, a qual se decidiu a favor da cabocla, cuja guarnição foi carregada em triunfo pela mocidade alegre e festiva”. Para esses grupos, contudo, a atividade não estava ligada a hábitos higiênicos, nem à conservação da saúde, como hoje, mas, à diversão. Já na segunda metade do século, passa a ser sinônimo de modernidade, associado a um “exercício phísico” ligado  juventude altiva, educada física e moralmente e pronta conduzir a nação ao progresso. Até disputas em favor da Abolição dos escravos foram realizadas.

A ocupação das praias, antes verdadeiros lixões, ajudou muito ao desenvolvimento dos esportes. E os banhos de mar, também, permitiram a idealização de corpos esportivos e saudáveis. – Mary del Priore.

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