Em busca do príncipe encantado. Somos todas Cinderelas?

O príncipe encantado só existe nos contos de fada. O homem perfeito, belo, apaixonado e nobre. Nem mesmo as princesas conseguiram concretizar esse sonho de amor romântico. Lembremos da imperatriz Leopoldina. Arranjaram-lhe um casamento com um lindo herdeiro de um país longínquo e exótico. D. Pedro era um homem muito atraente, segundo relatos da época. Era viril, impulsivo e…infiel. A pobre austríaca viu seu sonho de amor ser destruído pelas traições públicas e humilhantes do imperador, cujo mais famoso caso foi com a Marquesa de Santos. Ela sofreu com a total falta de atenção de seu marido.

Mais recentemente tivemos a célebre história de Lady Di e príncipe Charles. O casamento que encantou os britânicos e o mundo foi uma verdadeira tragédia. A bonita e querida princesa não conseguiu conquistar o feioso marido, que sempre amou outra mulher. O resultado foram transtornos alimentares, depressão e um divórcio escandaloso. Nem mesmo a mais deslumbrante atriz de Hollywood, Grace Kelly, conseguiu viver a história dos contos de fada. O seu príncipe Rainier, de Mônaco, também era famoso por seus casos. Mais um final trágico.  Ainda sim, continuamos a acreditar no mito do “príncipe encantado”?

De acordo com Mary del Priore, as mulheres do século XXI estão em busca de sua parcela de contos de fadas. “As mulheres são feitas de rupturas e permanências. As rupturas empurram-nas para frente e as ajudam a expandir todas as possibilidades, a se fortalecer e a conquistar. As permanências, por outro lado, apontam fragilidades. Criadas em um mundo patriarcal e machista, não conseguem se enxergar fora do foco masculino. Vivem pelo olhar do homem, do ‘outro’. Independentes, querem uma única coisa: encontrar um príncipe encantado”, acredita.

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Mary cita as pesquisas da socióloga Miriam Goldenberg, que revelam que na hierarquia de valores da mulher brasileira a melhor posição é a de esposa, de preferência com marido fiel, seguida da outra com amante fiel, depois da mulher que está só e, por fim, da casada enganada. A pior posição é a da casada sem vida sexual, voltada exclusivamente para cuidar dos filhos e da casa – ou seja, um resquício de tempos passados.  “Ter um marido é uma verdadeira riqueza, especialmente em um mercado em que homens disponíveis para o casamento são escassos. As casadas se sentem poderosas, pois, além de terem um marido, acreditam que são mais fortes e independentes do que eles, pois lhes são imprescindíveis, e também por acreditar que eles lhes são fiéis”, diz Mary.

O que as brasileiras mais valorizaram nos depoimentos é o fato de terem um casamento sólido e satisfatório, de muitos anos. A existência desse tipo de casamento foi apontada como principal motivo de felicidade; já sua ausência motivou infindáveis queixas e lamúrias. “Em um dos grupos realizados para a pesquisa, uma mulher magra, bonita e de aparência muito jovem disse sentir inveja de outra pesquisada por ela ter um casamento estável e feliz. O interessante é que a invejada era gorda e de aparência muito mais velha do que a invejosa”, prossegue Mary.

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Por que continuamos atrás desse sonho de vida perfeita que já se mostrou impossível? De acordo com Mary del Priore, as mulheres de hoje tem um objetivo principal: o amor. “Com ou sem marido, com ou sem família, é o único assunto ocupa as mulheres. Sinônimo de felicidade, esse sentimento é a principal razão pela qual elas ocupam os divãs. Mulheres querem ser amadas”, diz.

Segundo Bernardo Jablonski, vigora a máxima de que “só amor constrói”. O psiquiatra e ator acreditava que vivemos em meio a uma cultura que valoriza extremamente a importância do amor e da paixão, envoltos em uma visão “hollywoodiana” da afetividade. O que as jovens aprendem por meio de maciça doutrinação – via cinema, novelas, músicas, jornais e anúncios publicitários – é que o amor é a chave que abre as portas do paraíso na terra. “Faz parte desse pacote a ideia de que um dia as mulheres encontrarão um príncipe encantado com todas as qualidades da alma gêmea. Então viverão felizes para sempre. E nada de sapo, que é preciso beijar para transformar em príncipe, mas um prontinho: o príncipe prêt-à-porter”, conclui Mary.

Fico pensando até quando viveremos na expectativa de agradar os homens. Décadas de feminismo, com inegáveis conquistas, levaram-nos aonde no campo afetivo? Conheço muitas mulheres maravilhosas, independentes e inteligentes que vivem angustiadas por não “conseguirem” um casamento ou uma relação estável. Mulheres que passam por cirurgias plásticas, intervenções estéticas malucas ou vivem se depreciando por estar acima do peso ou não gostar de alguma parte do corpo. Querem ser atraentes e amadas. Como se a beleza física trouxesse o amor…

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Ser amado é o desejo de todos os seres humanos, mas será que não estamos nos torturando em busca de uma situação que só existe nas histórias? A chave do amor está na aprovação do homem ou está em nós mesmas? Estaremos fadadas a ser eternas Cinderelas? Vale a pena pensar no assunto.

– Márcia Pinna Raspanti.

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  1. Fátima Santiago

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