Por Mary del Priore.
Às velhas questões filosóficas “Quem sou? De onde venho? Para onde vou?”, alguém respondeu, ”Sou fulano. Venho de casa. Vou para casa”. Entre frívola e cruel, a ironia dá no que pensar, não fosse seu sentido etimológico: – do grego eironeia – interrogação, questionamento sobre si mesmo, a vida, a sociedade e a ordem do mundo. Penso nisso quando leio os jornais. Longe de qualquer interpretação metafísica, fico mesmo é com a sensação concreta de que estamos reduzidos a um movimento pendular, movimento que é defesa contra o sofrimento e saída frente ao espetáculo das ruas.
Que vivemos nossas guerras particulares não há dúvida. Que nossas cidades estão em farrapos, tampouco. Todos conhecemos o rol das violências pequenas, médias e grandes nas quais vamos nos enterrando, ao ir e vir de casa. Regressar, física e psicologicamente ileso, já é um milagre. Mas volto à resposta acima para pensar que frente às grandes questões que atravessam nossa sociedade, esta tem sido retrucada com ironia: ou seja, com o sentimento de abdicar da realidade em favor de uma piada, de alguma coisa invisível, de um profundo relativismo.
As eleições acabaram, e com elas, as grandes questões que engrossaram as plataformas eleitorais. Ouvimos falar de combate à violência, à corrupção, aos menores cheirando cola, aos sequestros, à miséria. Ouvimos de tudo. Mas a interrogação colocada pela ironia é: o que vou fazer, além de me chamar fulano e de ir e vir de casa? Houve um tempo em que a sociedade brasileira esteve extremamente mobilizada. Nos anos 60, o arrocho salarial uniu, na mesma frente, os sindicatos e a classe média.
Que vivemos nossas guerras particulares não há dúvida. Que nossas cidades estão em farrapos, tampouco. Todos conhecemos o rol das violências pequenas, médias e grandes nas quais vamos nos enterrando, ao ir e vir de casa. Regressar, física e psicologicamente ileso, já é um milagre. Mas volto à resposta acima para pensar que frente às grandes questões que atravessam nossa sociedade, esta tem sido retrucada com ironia: ou seja, com o sentimento de abdicar da realidade em favor de uma piada, de alguma coisa invisível, de um profundo relativismo.
As eleições acabaram, e com elas, as grandes questões que engrossaram as plataformas eleitorais. Ouvimos falar de combate à violência, à corrupção, aos menores cheirando cola, aos sequestros, à miséria. Ouvimos de tudo. Mas a interrogação colocada pela ironia é: o que vou fazer, além de me chamar fulano e de ir e vir de casa? Houve um tempo em que a sociedade brasileira esteve extremamente mobilizada. Nos anos 60, o arrocho salarial uniu, na mesma frente, os sindicatos e a classe média.
Entre 1979 e 1985, diferentes setores se organizaram, exigindo a redemocratização do país. Organizações de bairro, movimentos populares, associações e comitês, na cidade e no campo, pressionaram muitas vezes, com sucesso, por tarifas sociais de água e esgoto. Saúde e ensino estavam no centro do debate, lógico. Clubes de Mães, Pastorais e Grupos de Mulheres Trabalhadoras denunciaram a precariedade ou ausência dos serviços coletivos municipais. Sem falar dos cara-pintadas e do impeachment de Collor.
Hoje, contudo, ficamos na ironia. Talvez, como remédio para a decepção ou como antídoto ao desencantamento. Ficamos no “faz parte”. Só que isto não basta. É preciso transformar a ironia em consciência. Nem que seja para constatar que do jeito que estamos, somos nada.
Mary del Priore.
lXAiAV tcljexwxovqh, [url=http://qoosyxeuthqq.com/]qoosyxeuthqq[/url], [link=http://wkbnwmamlner.com/]wkbnwmamlner[/link], http://vprxtaqjppeh.com/
Nos ensinaram a não pensar, a não questionar, a não reclamar… Em meio à uma Sociedade Neoliberal, somos levados a sentar e assistir a esse “show de horrores”, sem termos consciência de que fazemos parte dele e ainda acreditar (como mencionado no texto): “a vida é assim mesmo! Faz parte!”. Assim como no filme “Matrix”, precisamos acordar, abrir os olhos e tomar ciência do nosso verdadeiro eu, da nossa real situação. Acredito que inicialmente precisamos olhar para dentro de nós e perceber que a minha ação ou a falta dela atinge a pessoa que está ao meu lado.
A historiadora reparte as suas meditações. E quem partilha pensamentos, dúvidas ou convicções, pelo menos acredita em quem os lê…