Castanha-do-Pará: da Amazônia para o mundo

Por José Jonas Almeida.

A extração da castanha-do-pará, conhecida no exterior como Brazil nut, se constituiu numa das atividades mais importantes e tradicionais da Amazônia. A amêndoa (semente da castanheira) é apreciada nos Estados Unidos e na Inglaterra, sobretudo nas festividades de final de ano, como o Halloween e o Natal. Desde a primeira metade do século XIX, os ingleses tentaram controlar a domesticação da planta, a partir do Real Jardim Botânico de Londres. Mas, ao contrário do que ocorreu com a seringueira, a Bertholletia excelsa (designação científica da castanheira) não mostrou boa adaptação fora das condições naturais e ecológicas da floresta amazônica. O êxito no processo de domesticação, a fim de possibilitar o seu cultivo, coube aos cientistas e agrônomos brasileiros. Desde a década de 1970, o desmatamento da floresta amazônica contribuiu para que o Brasil perdesse a condição de maior produtor, cabendo hoje tal posição à Bolívia.

          O livro “A Castanha do Pará na Amazônia: Entre o extrativismo e a domesticação” do historiador José Jonas Almeida, percorre a história do produto; a sua importância para as populações da Amazônia; o difícil e perigoso trabalho de extração do fruto; o processamento e beneficiamento do mesmo e as possibilidades que a castanha-do-pará ainda oferece, sobretudo na indústria de cosméticos e de alimentos. A exploração da castanha constituiu-se, sobretudo nas décadas de 1920 e 1930, em importante alternativa econômica para a região, principalmente após o declínio da borracha, chegando a superar a goma elástica como principal produto da Amazônia.

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CASTANHAS COM E SEM CASCA (1)

          Durante muito tempo, existiu o temor que acontecesse com a castanha-do-pará o mesmo que ocorreu com a seringueira, ou seja, que tivesse as suas sementes contrabandeadas para o exterior. O que não se sabia é que as sementes da castanheira já haviam sido levadas para fora antes mesmo da seringueira. Várias tentativas foram feitas pelos ingleses a fim de conseguir a domesticação da castanheira, com sementes enviadas para a Jamaica, Trinidad e Tobago e, finalmente, para o Real Jardim Botânico de Kew, em Londres, ainda no século XIX. Dos viveiros deste último, as sementes foram enviadas para o Ceilão (atual Sri Lanka), para a Malásia e até para a Austrália. Contudo, a castanheira da Amazônia não mostrou boas condições de adaptação e produção de frutos fora de seu ambiente natural, ou seja, a própria floresta amazônica.

         Apesar das tentativas iniciais de domesticação da planta não apresentarem bons resultados, algo que foi realizado em definitivo pelos técnicos e engenheiros agrônomos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a amêndoa ou castanha propriamente dita fez sucesso no exterior. Presente no mercado inglês desde o final do século XVIII e no norte-americano no início do século seguinte, a castanha-do-pará participa, ao lado das outras amêndoas e nozes, do grupo de produtos associados às festas de final de ano e também como complemento de pratos em geral, como assados, suflês, bolos, doces e chocolates. Em 1934, importadores norte-americanos criaram a Brazil Nut Association responsável por produzir material de propaganda para jornais e revistas, além de editarem livros de receitas com bolos, doces e assados tendo a castanha como complemento.

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Brazil nut anuncio em revistaBrazil nut boloBrazil nut doces

         O livro também descreve as várias tentativas de melhorar o beneficiamento e o aproveitamento do produto a nível interno, algo que apenas recentemente tem sido obtido. Na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), em função do bloqueio do mercado externo, algumas campanhas foram realizadas para tornar a castanha-do-pará mais conhecida dos brasileiros do sul. Por décadas, o município de Marabá, no sudeste do estado do Pará, foi o grande centro produtor de castanhas até que o desmatamento nas décadas de 1980 e 1990 contribuísse para o declínio da produção nessa área. Atualmente, a Bolívia é maior exportador da Brazil nut, que apesar disso, ainda mantém esse nome no mercado internacional.

livro capaGETÚLIO VARGAS COM O FRUTO DA CASTANHEIRA (OURIÇO)

A Castanha do Pará na Amazônia: Entre o extrativismo e a domesticação” (capa) e Getúlio Vargas segurando o ouriço (fruto da castanheira).

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