Casamento, amor e rebeldia

Luísa Margarida Portugal de Barros, futura Condessa de Barral, protagonizou uma história interessante sobre casamentos arranjados, que teve um final pouco usual. Quando jovem, a condessa, que segundo dizem muitos historiadores viria a ser o grande amor de D. Pedro II, desafiou a autoridade paterna para escolher o próprio marido.

Prometida, ainda criança, estava destinada, desde 12 anos, a Miguel Calmon du Pin e Almeida, o futuro Marques de Abrantes. Há mais de uma carta de seu pai, Pedra Branca, confirmando uma escritura de esponsais entre a menina moça e o já conhecido parlamentar, senador e ministro de Estado. Numa delas se justificando, o pai explica: “convém, para a demora, acabar a educação e esperar, como está convencionado, aquele a quem ela deve unir-se”. E todo babão com os mimos da filha punha água na boca do noivo: “Iaiá preenche o fim a que a propus, e é ganhar em conhecimento, em talentos, sem diminuir sua simplicidade, é mulher no corpo, na idade, no siso, etc…é menina nos costumes. Sai da sala de tocar, dançar, conversar com senhoras e homens e vai brincar com a poupée; quando lhe falamos em negócio de casamento, ri ou corre e diz, deixem-me brincar enquanto é tempo disso” escreve de Paris, à 28 de setembro de 1828.

Em fevereiro de 1829, Iaiá contava 13 anos, enquanto seu pai reescrevia a Calmon, dizendo-lhe que mostrasse as cartas trocadas para os que duvidassem do casamento: “a fim de que vejam que é negócio antigo, decidido, e não um jogo em que se muda de parceiro, quando a partida não vai a contento do outro”. A educação da menina, a estada de seu pai na Europa e a política, prendendo Calmon no Brasil, adiaram o enlace. Mas afinal, chegou o tempo.  Era 1835 e Luísa parecia querer escolher por sí mesma. Em carta de Boulogne de 1836 contava envaidecida:

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“No inverno passado fui pedida em casamento por um belo rapaz que apaixonou-se por mim ; para dizer-te a verdade (pois queres confidências) ele me agradava muito, mas o recusei. Era muito embaraçoso, aceitar na minha posição (afinal, estava noiva), mas me saí corretamente. Ele é francês e tem os mais belos olhos do mundo. Talvez eu tenha feiro uma bobagem, mas tanto faz. Ele me garantiu que voltaria, assim que papai chegasse a Boulogne, para pedir novamente minha mão. Veremos. Você não o conhece e eu também não te direi seu nome”

Sentindo-se presa ao compromisso que o pai assumira, ela recusa com pesar aquele pedido, esperando, contudo, a segunda investida prometida pelo “belo jovem” que a encantara com os mais belos olhos do mundo. Ele era um dos vários pretendentes que disputavam sua mão, na França. A 10 de março de 1837, Pedra Branca escrevia ao Marques de Resende que, ao buscar a filha para vir casá-la com o prometido noivo Calmon, ela recuara. Sua resistência tinha razão de ser: “desde a meninice criada em França, seus hábitos, suas relações e as afeições, são da pátria da educação, e que do Brasil fracassam as memórias”, argumentara a precoce Iáiá. Ela não fala em amor, mas, as razões não são outras.

O pai não se conformava. E, desolado, escrevia ao recusado: “sofri muito e sofro ainda, mas o pai é guarda e conselheiro da filha, deve arredar-lhe os  tropeços e não a constranger para o ato de que depende todo o porvir dela. Vários pretendentes se apresentaram  e dentre eles o preferido foi o Visconde Eugênio de Barral, nome que lhe foi dado por seu padrinho, o Príncipe Eugênio e a Imperatriz Josefina; ele é sobrinho do marques de Beauharnais…tudo fala a seu favor, mas o Sr. Barral não é brasileiro”. Triste e vexado Pedra Branca, vexado e triste Calmon, vitoriosos Luíza e seu Visconde! Só dois anos depois partiria Luísa para seus engenhos na Bahia. Em mais uma carta, ela confessa: “je l´aime bien et il est trés bon garçon”  – eu gosto muito dele e ele é muito bom rapaz.

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Casamentos obedeciam a regras estipuladas pela camada social da família, sem qualquer interferência das noivas. Casos como o da Barral foram, ao que tudo indica, exceções.- Mary del Priore. Baseado em: “História do Amor no Brasil”.

barral

Luísa Margarida (futura Condessa de Barral) quando jovem.

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