“A sedução não é proveniente apenas do corpo”

        Nem todas as mulheres hoje vivem a maturidade social, autonomia e liberdade, que foram buscadas desde os anos 60 e 70 do século passado. O modelo de emancipação não é apropriado da mesma forma por todas as brasileiras. Há milhares delas em regiões do interior, cujas prioridades são diferentes das nossas. Se a pesquisa estiver se referindo às moradoras dos grandes centros urbanos, aí sim, podemos dizer que a pílula e a inserção profissional lhes trouxe independência sexual e financeira.

       Penso que as mulheres trocaram a antiga submissão aos maridos e pais, por outra, mais insidiosa e que consiste numa servidão ao que determina a mídia, a televisão e os outdoors. Não vemos mulheres “liberadas” se submeterem a regimes drásticos para se conformar a um único modelo físico: o de tamanho 38? Não as vemos se infligir sessões de musculação nas academias, se empanturrando de todo o tipo de anabolizantes? Não as vemos se desfigurar com as sucessivas cirurgias plásticas, negando-se a envelhecer com serenidade?

      Acredito que a brasileira deixou várias prisões para trás, para caber num outro cárcere: aquele do olhar masculino. Burramente, ela acredita que só o corpo pode falar a linguagem da sedução. Até nos haréns orientais era exigido o espírito e a inteligência. Sherazade que o diga. O nosso chador – ou véu – é outro: é a balança e o espelho! Como historiadora, só posso dizer que todos convivemos – para o melhor ou para o pior – com o novo e o velho. O tradicional e o contemporâneo estão sempre se interpenetrando, dialogando, interagindo. Muitas vezes, resistimos às transformações nos agarrando ao que é antigo.  Esse é um comportamento normal que pode se observar em outros momentos de nossa história.

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     É lamentável que tão pouco tenha sido feito pela mulher brasileira, nas últimas décadas. com exceção da lei Maria da Penha. A verdade é que a mulher brasileira precisa de ajuda para mudar – saúde e educação – mas ela também precisa Se mudar! o problema não é na rua. Mas em casa. É lá que elas escondem seus sentimentos masculinizados. Muitas protegem filhos que agridem outras mulheres, não os deixam lavar louça ou arrumar o quarto. “Homem não nasceu para isso”! A ideia é tornar marido e filhos dependentes delas em assuntos domésticos, pois muitas são dependentes financeiras, deles. Outras calam sobre comentários machistas de seus companheiros, incentivam piadas e estereótipos sobre a “burrice” feminina, cultivam cuidadosamente o mito da virilidade. Gostam de se mostrar frágeis, pois acreditam que eles assim se sentem mais potentes, e de ser chamadas de xuxuzinho, docinho ou gostosona, tudo o que seja convite a comer. O título de cachorra é um elogio. Mulher forte? É sapatona! A “Melancia”? Linda! Acreditam que a feminilidade é um estado natural, a ser conservado e que todas as despesas aí investidas, até cirurgias que acabem por desfigurá-las, são um bom negócio.  São coniventes com a propaganda sexista e com a vulgaridade da mídia. Na TV, aceitam temas apelativos e não se incomodam que os mesmos encham a cabeça de suas filhas .

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   – Texto de Mary del Priore.

Seminua, de Oscar Pereira da Silva.

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