A Revolução das Mulheres

Lygia Fagundes Telles é a primeira mulher brasileira a ser indicada ao Nobel de Literatura. Sempre gostei muito de suas obras:As Meninas” e “Ciranda de Pedra” estão entre meus livros preferidos. Conheci Lygia no lançamento de “História das Mulheres no Brasil” Editora Contexto, 1997), organizado por Mary del Priore. Simpaticíssima, ela autografou meu exemplar, e conversamos um pouco.

O artigo de Lygia, “Mulher, Mulheres”, nos faz refletir. O texto começa com uma citação de Roberto Bobbio: “A revolução da mulher foi a mais importante do século XX“. A escritora destaca que não se trata da revolução feminista, mas da “feminina”. Lygia avalia que na revolução feminista houve “tantas polêmicas e conotações ideológicas, tantos acertos e desacertos, egressões e agressões demagógicas, o fervor de congressos e comícios beirando a histeria na emocionada busca pela liberdade”. Entretanto, reconhece que todas as revoluções são “exageradas”, de alguma forma.

A escritora fala das mudanças de comportamento que ocorreram no século passado. Com a 2ª Guerra Mundial, as mulheres tiveram que sai de casa e ocupar os postos de trabalho que tinham ficado vazios, com a ida dos homens para o combate. Logo, as trabalhadoras mostraram que poderiam ser tão ou mais competentes que os homens. Aberta a porta do mercado de trabalho, as possibilidades começaram a expandir – não sem a forte resistência dos valores tradicionais.

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A própria Lygia, conta ela, causou espanto na sua família quando decidiu cursar Direito. A mãe a advertiria que os homens não gostavam de mulheres inteligentes, e que tal decisão acadêmica poderia acabar com as chances de um bom casamento. Já dizia Baudelaire que “amar mulheres inteligentes é um prazer de pederasta“. Mas logo a mãe percebeu que seria estupidez desperdiçar o talento da jovem, apenas pelo seu gênero.

Lygia fala sobre a liberdade de escolha: a mulher que se sente bem em casa, cuidando da família, que o faça. Quem preferir trabalhar, na área para a qual tiver vocação, que possa também fazê-lo, sem problemas. A escritora diz que a palavra mais importante para a Revolução das Mulheres é paciência. “E vontade fortalecida para melhorar a si mesma, o único caminho para melhorar a sociedade. Melhorar a sociedade. Os que vão na frente são os primeiros a levar no peito a rajada, não foi o que disse Trotsky? Foram tantas que caíram sem socorro que agora lembro (sem rancor!) que também a Igreja não foi solidária com a mulher“. Jesus, no entanto, sempre defendeu a mulher, diz ela.

Essas reflexões de Lygia Fagundes Telles nos fazem pensar sobre o estágio atual da Revolução das Mulheres, e também dos movimentos feministas. Será que precisamos de mais paciência? Ou estamos (ainda) em tempos de combate? Acho que cada mulher deve escolher seu caminho e procurar entender a escolha das outras. É muito triste ver algumas de nós como críticas implacáveis das lutas feministas. Será que os “exageros” de algumas não favorecem todas nós?

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Para onde caminhamos nesse século XXI? Será que conseguiremos caminhar juntas em busca da igualdade, apesar das diferenças? A paciência se torna cada dia mais escassa…– Texto de Márcia Pinna Raspanti. 

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“História das Mulheres” e a imagem de Lygia Fagundes Telles, quando jovem.

 

 

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  1. Laura Rangel

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