Educação: o problema nem sempre é o estudante

     O relato de hoje vem de Fortaleza, Ceará, e trata da falta de engajamento – real e não apenas no discurso – dos poderes públicos à causa da educação. Professores dedicados, que amam seu trabalho e tentam melhorar o nível de ensino em suas escolas, supreendentemente, não recebem nenhum tipo de apoio ou incentivo.O que fazer?

Por professor Cristiano.

Achei muito interessante a proposta de compartilhar, em nível macro que a internet nos propõe, as experiências de professores em seus espaços de atividade profissional. Achei importante, principalmente, pela possibilidade de denúncia e de alerta que o relato de cada vida profissional é capaz de ressaltar. É sob esse aspecto que eu, professor de História efetivo da rede Estadual de Educação do Ceará, ministrando aula atualmente na periferia de Fortaleza, proponho-me a compartilhar a recorrente frustação às minhas atividades pedagógicas na escola em que leciono.

Para iniciar o relato, devo dizer que não se trata de uma dificuldade entre os estudantes e eu, pois me arrisco a afirmar, categoricamente, que dentre as dificuldades presentes nesses meus cinco anos de exercício do magistério, essa relação está sendo sempre de muito respeito e aprendizado. A meu ver, é a melhor parte da minha profissão. Não quero, com isso, negar as dificuldades que outros colegas tenham nessa relação, que frequentemente é noticiada e proferida nas mídias e depoimentos de meus pares. Quis, portanto, iniciar com essa informação sobre a minha relação com os  estudantes para enfatizar nesse relato o que realmente é uma dificuldade para mim e, de forma direta, também para os estudantes.

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Desde o ano de 2013 proponho na escola, sempre ao final do ano, a elaboração de trabalhos com o tema “Memórias da Ditadura Militar”,  tivemos como subtema as Memórias de Frei Tito de Alencar. O objetivo desse trabalho era discutir a produção de memórias sobre esse sujeito no que concerne ao filme, a exposição em sua homenagem no Museu do Ceará e ao depoimento de parentes, convidados a virem à escola. Acontece que para o desenvolvimento do Projeto, realizado sempre com antecedência de datas necessitaríamos de transporte para a visita ao Museu. Ao contatar a Secretaria de Educação nos foi confirmado ônibus suficientes para levar as quatro turmas de terceiro ano para a exposição. Acontece que duas semanas antes da data marcada recebemos a informação que os ônibus estariam cancelados, alegando-se falta de gasolina. Para o desenvolvimento do projeto, eu, outros professores e a direção da escola desembolsamos o dinheiro para o ônibus, mas apenas duas turmas foram contempladas pela obviedade da nossa falta de recursos em alugar mais ônibus. Há tempos venho notando a dificuldade de apoio da Secretaria frente aos projetos da escola, principalmente quando esses partem da escola.

Esse ano, 2015, aprovamos em nossa área a possibilidade de em cada final de bimestre visitar espaços que contemplassem nossos temas e conteúdos escolares. Fizemos o planejamento para tal e assim solicitamos novamente o ônibus à Secretaria par realizar a aula em um Museu, chamado de Escravo Liberto, a intenção era discutir a relação da Casa-Grande e a Senzala nesse espaço, já que lá se preserva tais aspectos. Embora o projeto tivesse sido enviado com antecedência, novamente os ônibus foram negados. Com isso, desmotivação e frustação com os estudantes já que alimentamos o desejo dessa aula neles e muito descaso com o que recorrente se cobra de nós, aulas diferentes! Pergunto-me, sem apoio é possível?

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leitora

“A Leitora”, de Fragonard.

2 Comentários

    • Cristiano

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