Solteironas e “moças-velhas”

Até hoje, existe uma cobrança da sociedade para que as mulheres se casem e tenham filhos. Muitas se sentem pressionadas e veem a solterice como fracasso; outras preferem a vida sem marido ou filhos, aproveitando as vantagens de seu estado civil. Se atualmente a pressão existe – e incomoda -, imaginem como era a situação das moças que ficavam “no caritó” no século XIX.

Em 1890, na população total, a predominância do sexo masculino era de 56%. Numa sociedade em que as mulheres nasciam, cresciam e casavam para ter filhos, a donzelona era aquela que não cumpria as regras. Que se colocava fora do lugar certo. Que falhara. E tudo isso com tanta discrição que era como se não existisse. Quanto mais idade, pior.

Uma mulher de trinta anos era considerada “moça-velha” e, portanto, não mais “amável”. Não sendo capaz de conquistar um casamento, ela também não impunha respeito. Com o tempo escorrendo na ampulheta da vida, elas davam adeus ao riso, às brincadeiras, aos amantes sonhados e à beleza. Muitos juristas concebiam o celibato como um estado indecente. E os médicos consideravam-no a porta para uma grave doença: a histeria.

As moças que se considerassem feias e retraídas eram “chamadas” para o magistério. Ser professora constituía trabalho aceitável para as mulheres sós. Um único turno, salário modesto e exigência de bons costumes. Aquelas a quem a maternidade física fora vedada cumpriam suas funções como “mães espirituais”. A professora solteirona era de poucos sorrisos. Sua afetividade ficava escondida.

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Severidade e secura, óculos, coque, roupas escuras, pelos no rosto: as caricaturas dos jornais as representavam assim. Na literatura, não faltavam autores para descrever os defeitos das moças-velhas:

“O pior, para uma mulher, é não casar. O celibato feminino é uma fábrica ativíssima de monstros. A mulher é um ser profundamente afetivo. Nasceu para amar — seja a um homem, a um santo ou a um gato. Muitas, vítimas de namoros malogrados, refugiam-se no seio acolhedor da Igreja. São milhares e milhares de devotas místicas, exaltadas no sentimento religioso, que encontram aos pés da Cruz um consolo para sua felicidade perdida. Outras dedicam-se ao professorado— e infernizam a alma terna das crianças (devia ser proibida a existência de professoras solteiras!). Como não casaram, descarregam nos petizes todo o fel acumulado em longos anos de renúncia. Outras, por fim, dedicam-se a falar da vida alheia, a intrigar, a pôr veneno na vida dos conhecidos, a começar pelos parentes”, admoestava o jornalista Berilo Neves, na Revista da Semana.

Ser solteirona no século XIX e início do XX era um destino terrível! As mulheres nesta condição eram discriminadas e mal vistas pela sociedade, que acreditava que a única vocação feminina era ser mãe e esposa. Fracassar nessa missão era quase imperdoável…

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  1. Luemir Lisboa Santana

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